Hoje entrei numa casa da minha família, onde não entrava há 57 anos.
JUSTES
JUSTES A nossa herança cultural também é formada por malhas de afectos que nos ligam aos sítios e às pessoas, definindo e justificando cada vez melhor as viagens que oscilam entre passado e futuro. Referências, laços, percursos e registos que só são valorizados pelos que partilham essa herança.
segunda-feira, 21 de agosto de 2023
Casa dos nossos bisavós - aquilo que não se vê da rua
sábado, 15 de julho de 2023
sexta-feira, 14 de julho de 2023
GLOSSÁRIO DE JUSTES (em construção)
GLOSSÁRIO DE JUSTES (em construção)
Abascado - parvo
Abascadório - parvalhão
Abrenúncio - exclamação de repúdio.
Aceirar - sentar descontraidamente tomando conta do espaço
Acusa-cristo - denunciador
Adjunto - multidão, ajuntamento de pessoas
Ahbô – expressão semelhante ao franceses Ah Bom utilizada quando alguém quer reforçar o que se diz, por vezes é utilizada com o significado astúcia de alguém que não se deixa enganar
Ahfeito - espanto, admiração, exclamação, por uma notícia considerada incrível.
Aldrábio – pessoa mal arranjada
Almotelia – galheta metálica em forma de cone com asa para servir o azeite na cozinha
Almotriga - almotelia
Almotrigueiro - mal arranjado
Amásia – amante feminino
Arrecádias - argolas decorativas de usar nas orelhas.
Arrimar - atirar, lançar
Asseirar . sentar ocupando espaço como uma asseira (cesto)
Atrepecho - apetrecho; utensílio
Auga - água
Azado - jeitoso, adaptado ao que se pretende
Banaboia – “bon vivant”
Bancelho - cordão textil (palha ou giesta) para atar um molho de vides ou outro material.
Bandima - vindima
Banjolim - bandolim, guitarra pequena
Baranho . Superfície ou área que a gadanha consegue cegar.
Barbeiro – ar frio
Barriganas - pessoa com grande barriga
Bichanar - sussurrar
Boche - pulmão do porco
Bodas - gordo
Bonêcro - castanha mal desenvolvida que se encontra a envolver a verdadeira castanha, no interior do ouriço.
Bornil - bossal
Bornal - saco
Borra botas - pessoa insignificante
Bossal – indivíduo inactivo e parvo
Bosseiral – Bossal exagerado
Bosteiral - preguiçoso
Bouba - pequena ferida de criança e proferida para uma criança; "dói-dói".
Broeira - utensilio de madeirapara guardar as broas e que se suspende no tecto da despensa.
Calipto – eucalipto
Caniço - plataforma para secagem de castanhas localizada sobre o lume
Canjirão -jarro ou cabaça grande para vinho; safado, malandro ou aldrabão (em sentido pejorativo)
Canório - tronco do milho até meio da planta
Carretas - alguém que sempre carrega algo para casa no sentido de recoletor
Catóbio ou mosquete - pequena pancada dada com as pontas dos dedos em sinal de repreensão.
Cismar - pensar de forma pessimsta.
Chavelha - travessa para fazer a travamento entre a caqbeçalha e o jugo, através do tamoeiro
Chedas – pessoa displicente
Chedes – Traseira do carro de bois
Chiasco – ar frio
Chorinhas - individuo que está sempre a lamentar-se
Chubisco - chuva miúda; chuvisco.
Comandita - grupo de pessoas ou crianças de pouco valor
Cornelho – semente de papoila
Corropio – andar apressado e agitado
Cum caneco - exclamação, incrédulo
Dar o arroz - fazer as contas, ajuizar e repreender
Engadanhar - andar à bulha,
Enterbalo - intervalo.
Entrepicar - implicar
Escabaterra – toupeira
Escanar – tirar o pendão do milho; passar rápido
Escaniçada - magra
Escaranfunchar – intrometer, procurar com empenho
Esfraldicada - mal arranjada com fraldas de fora
Esganiçada - voz aguda pouco harmoniosa
Esgranar – separar os grãos
Esmifrada - magra
Esprito – espírito
Estadulhada - batida com estadulho
Estenganhadas - pauladas, sopapos
Estrela e bêta - rebelde, levado do diabo
Estroncar – apertar com corda e pau
Estronçar - desfazer
Estropício - impecílho
Esturricado - queimado
Esturro - problemas, complicação
Fataicho - vestido mal apresentado
Fogacho - tiro
Fedelhar - estar sempre a repetir o mesmo provo
Fedúncio – indivíduo enfadonho
Ferrã – tipo de erva
Ferracatel - homem pequeno de pouca serventia
Folhato - folha do milho
Fueirada - batida com fueiro
Gabela – pequeno molho de lenha que se transposta no braço
Gatafunho – escrita mal elaborada
Geringonça – aparelho improvisado esquisito que resolve um determinado problema
Ginga - bicicleta
Gorgomilo - pomo de adão
Grabano - utensílio utilizado na agricultura para rega, servindo para retirar agua de, um poço, tanque ou deposito, e passá-la para outro local. É formado por um balde atravessado por um cabo de madeira que permite o seu manuseamento.
Gramilo - fecho de porta.
Indrominar - enganar
Lá voltam os feijões para casa da Apolinária - tudo se vira ao contrário, virar para trás, inverter
Ladranho - caniço em madeira em forma de aduela colocado lateralmente para conter cargas no carro de bois; dar cabo dos ladranhos - aleijar-se nas costas
Lamaroto - de Lamares
Lamiré – dar o lamiré dar o alerta
Laparoto – rapaz gordo
Lapouço - indivíduo pouco ágil e preguiçoso.
Leitorigo – leitão muito pequeno
Leirão - rato grande
Macumbeiro – praticante de outra religião que não a católica
Mandicante – macacório, malandro
Mandilete . recado de pouco valor
Mantrasteiro – Amante (sentido pejorativo)
Mastroncio – homem mal arranjado.
Meei-te – fiz pela metade
Mirone – pessoa indiscreta no olhar, “voyeur”
Miscrar – procurar com curiosidade
Missacras – indivíduo que anda sempre na igreja ou atrás do padre; individuo que come muito, ou seja come como um padre guloso.
Môcho - bando
Nespra - nespera (fruta)
Óbem no digo eu - incrédulo
Omesoitra - exclamação de espanto, nunca se viu
Palhitos - fósforos
Palhuço - palha miúda.
Parafusa – instrumento de madeira para torcer a lâ.
Parança - estar parado
Paridura – acção de parir
Pestiçar - choramingar ou fazer de conta.
Pia além - por aí fora.
Pião das micolas - vítima
Pega no céu - pasmado
Pincha na xanca - põe-te a andar, desaparece
Pichel – pichorro pequeno
Pichorro – vasilha de barro de servir vinho
Pimpolho - bébé gordinho
Pincha no crivo - pessoa sem crédito, q muda de opiniao consoante a conveniência
Pintaíba - falência
Pitogrou - estouvado, desmiolado
Polbro – polvo
Poupo - carrapito de cabelo na parte posterior da cabeça
Prosa - asseado, vaidoso
Prosápia - vaidade
Pucro - púcaro
Quenguenho - caule estruturado do cacho de uvas
Rais te paira - tolo
Ramada (estar com) - embriaguez
Rapança – pequena pá para mexer as brasas da braseira
Rato de almiscara - curioso, bisbilhoteiro
Repas - madeixas de cabelo
Repudo – portador das repas
Repiocar – dançar às voltas; passear
Ripeirada – acção agressiva realiza com uma ripa ou ripeiro
Ripeiro – ripa mal feita
Roças - mal vestido
Rodilha - pano torcido dobrado em espiral que serve de apoio ao caneco quando se coloca na cabeça. Serve para suavizar o peso e a forma do caneco adaptando à forma da cabeça.
Rodizio – andar num rodízio, andar atarefado
Rombudo - arredondado
Roto - aberto para emitir gases ou esfomeado
Sacripanta - desonesto
Sacristas - anda sempre a adular o padre e o sacristão
Sardanica - menina com sardas
Sardina - bofetada, porrada
Sarilhal - sarilho (tirar terra dos poços)
Saruga - espinha de peixe
Serrubicar - beliscar
Sigorelho - criança
Sofrisca - rapariga magricela e atrevida
Sostra - molengão
Talefe - ponto de cota mais elevada de uma serra.
Tamoeiro - peça de couro circular que prende o tamoeiro à cabeçalha, trvado com a chavelha
Tanger - guiar
Tenir – ausência normalmente de dinheiro
Trampolineiro - trapaceiro, pantomineiro
Treitoira - peça para segurar o eixo do carro de bois
Trinca espinhas - rapaz ou rapariga muito magro (a)
Trinçar - partir lenha fina (giesta)
Trisorelho - papeira
Toar - trovejar.
Tresouvir – ouvir deturpado
Tropeça - calhau (doi-te a cabeça, da-lhe com uma tropeça)
Vestionário – vestido largo
Vassouro - agitado, sempre a mexer
Xocas – tufos de cabelo emaranhado incapaz de ser penteado
Zabar - descompor
Zanoco - coto.
Zarelhar – ser irrequieto
Zarelho - criança irrequieta.
Zipra - zeripela (doença)
Zoar - soar
Zopeira - amante
Zurário - agiota; ganancioso
sábado, 30 de julho de 2022
CARTA DE POVOAMENTO DE JUSTES
Carta de povoamento concedida a Justes, em Constantim
No dia 1 de Agosto de 1222, em Constantim, “D. Mendo, abade
do mosteiro beneditino de Pombeiro, outorga carta de povoamento aos fundadores
da aldeia de Justes."
A.D. B., Registo geral, n.° 342, fl. 115 v.
«JUSTES aldea
Item mais ha o senhor arcebispo e a sua camara de Sam
Lourenço de Riba Pinham hũa aldeea que chamam Justes da quall mostraram os
moradores della este forall que se adiante contem:
Os quaaees moradores juntamente pollo juramento dos Santos
Avengelhos diserom que pagavom da dicta aldeea cada anno XVI maravedis de booa
moeda antiga e mais huum carneiro e oyto galinhas e al non. Os quaaes diserom
que o dicto termo partia per o termo do Castello e dis i polla Fonte do Vall do
Cervo e dis i ao Coto de Saa e como se vay aa Palla do Seixo e di como se vay
ao Carvalho Torto e como se vem ao ribeiro do Castinheiro augua vertente e como
se vem ao Porto das Leiras Novas honde see o marco d'antre a dicta aldeea e
Cepedes e des i como se torna aos Outeiros Gemeos e como se vay a Pedra Fiell e
como se vay aa olla do Poço Mourisco e como parte com o couto de Parada e como
se vay ao Outeirall e como se vay ao Poço das Ollas e dis i como se vay per
Pinham arriba ataa o ribeiro de Santiago e dis i como se vay pollo ribeiro
acima ataa o muro de Joham Antoninho e como se vay aa Fontinha Travessa e como
se vay aos pousadoiros de Pinhancell e como se vay aa Fonte Fria e como se vay
aa Corvaceira Maior e como se vay aa Corvaceira Mior e dis i a Fonte de Vall do
Cervo onde primeiro começamos.
E mais pagam de pam huum quarteiro de pam cozido, convem a
saber, de seis alqueires de centeio e mais de cevada outros VI alquires.
Os quaaees foros an de pagar cada anno na camara de Sam
Lourenço em paz e em salvos."
Retirado de “O povoamento das aldeias transmontanas de
Gache, Justes, Torre e Soudel no Século XIII”, José Marques, in “Estudos
Transmontanos”, nº1
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022
Avelino de Sousa Campos
Avelino de Sousa Campos Nasceu no lugar do Prado (Borbela), em 10 de Novembro de 1905, e foi baptizado, em 19 de Fevereiro de 1906, na igreja de Borbela. No assento de baptismo vem referido (transcrito sob o n.º 129, do livro 11, de 1924), que foi emancipado por sua mãe, em 27 de Outubro de 1924 (ADVR/Registo de baptismo n.º 11 de 1906 – Borbela). Casou com D. Maria Jenny Fernandes e Silva de Sousa Campos que foi professora da Escola Industrial e Comercial de Vila Real. Foram pais de Teresa da Silva de Sousa Campos, nascida em S. Pedro (Vila Real), em 21 de Janeiro de 1946. (ADVR/Registo de passaporte nº 501/1964, de 4 de Agosto de 1964). Avelino de Sousa Campos licenciou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, foi advogado e professor. Foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, nomeado em 30 de Novembro de 1944 (Diário do Governo, nº 289, de 13.12.1944) tendo sido exonerado, a seu pedido, em 31 de Outubro de 1947 (Diário do Governo, nº 259, de 6.11.1947). Foi deputado da Assembleia Nacional na V Legislatura (1949-1953). As suas intervenções parlamentares foram as seguintes: Na 1.ª Sessão Legislativa (1949-1950) – Discussão do aviso prévio do Sr. Paulo Cancela de Abreu sobre a crise do turismo em Portugal. Considerações sobre o vinho do Porto, Federação dos Vinicultores da Região do Douro e plantio da vinha. Na 2.ª Sessão Legislativa (1950-1951) – Justificou um aviso prévio, que apresentou, relativo a assuntos judiciais. Referiu-se à pretensão de uma anexação de freguesias a outro concelho. Na 3.ª Sessão Legislativa (1951- 1952) – Não registou intervenções. Na 4.ª Sessão Legislativa (1952-1953) – Tratou da situação gravosa das empresas concessionárias de volfrâmio em certas regiões do País. Discutiu, na generalidade, a proposta de lei relativa ao Plano de Fomento 3 . Foi procurador à Câmara Corporativa em 1965, 1969 e 1973, como representante da lavoura e das entidades patronais 4 . Na qualidade de procurador à Câmara Corporativa participou na XI Legislatura (1973-1974), no Projecto do IV Plano de Fomento para 1974-1979 (Continente e Ilhas) – Anexo IV – Agricultura, 3 https://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/c/campos_ avelino_de_sousa.pdf 4 ALMEIDA, Maria Antónia Pires de (2014) – Dicionário Biográfico do poder local em Portugal 1936-2013 – e.book, Lisboa, 2014, ISBN 9789892039886 - 18 - Silvicultura e Pecuária 5 . Foi Presidente da Comissão Distrital da União Nacional e diretor do jornal Ordem Nova, órgão oficial da União Nacional no distrito de Vila Real. Foi Presidente do Grémio da Lavoura de Vila Real, presidente da Federação dos Grémios da Lavoura de Vila Real e Alto Douro e vogal da direcção da Corporação da Lavoura. Avelino de Sousa Campos viveu no lugar do Prado e faleceu, em Vila Real, em 30 de Março de 1974.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
Machados de Justes
MACHADOS DE JUSTES
João Gonçalves Costa
Quando, por finais de Fevereiro de 1964, os operários que
procediam
à terraplanagem de um terreno onde a firma A. Taveira &
Companhia Ld.ª
ia construir a sua fábrica de serração de madeiras, no lugar
de Couços,
Justes, ficaram surpreendidos com o achado de cinco pedras
que lhes
pareceram invulgares. As estranhas pedras foram guardadas,
embora uma
delas infelizmente se tenha extraviado posteriormente.
E eram, de
facto, invulgares. As
pedras, que tinham
sido
primorosamente afeiçoadas há quase 4 mil anos, por homens do
Neolítico
ou do Eneolítico, pertenciam a uma classe de instrumentos a
que se dá o
nome genérico de machados, quer se destinassem a uso prático
corrente,
quer a rituais religiosos, como parece ser o caso destes.
Mais tarde, e não muito longe daquele local, no sítio de
Bouças,
apareceu um sexto
machado, um pouco
menos perfeito do
que os
anteriores, mas com idêntico valor histórico.
Curioso é notar que um dos machados, é feito de fibrolite,
rocha que
não se encontra na região, nem sequer na Península Ibérica,
o que nos diz
qualquer coisa sobre as migrações e as relações comerciais
dos homens
de dois mil anos antes de Cristo. Os restantes são de xisto
metamórfico,
rocha vulgar na região.
Combinando estes achados com outros realizados em áreas
próximas,
nomeadamente vestígios de cerâmica e monumentos megalíticos,
é de
admitir que os
homens que os
fizeram e usaram
já se encontrassem
sedentarizados.
Finalmente, refira-se de passagem que toda a zona de Justes
é muito
rica do ponto de vista arqueológico, com importantes
vestígios dos tempos
megalíticos, da época castreja, da idade do bronze e da
romanização.
in Escapas do Corgo