domingo, 23 de novembro de 2008

No tempo do volfrâmio parte II

Raça de Portugueses!

Corre-lhes nas veias o sangue latino, aventureiro, empreendedor. Em alturas de desconforto psicológico, moral ou de bem- estar, é destemido, aventureiro. “- medo eu? Eu cá não tenho medo a nada! Vamos a isso!”
O querer ser alguém, e este “alguém” significa ter dinheiro, passar a ser respeitado, cumprimentado até por pessoas que até aí lhe não ligavam, o poder ir à tasca e pagar um rodada de copos a toda a gente, mesmo que houvesse um qualquer desaguisado por partilhas de regadios, era uma forte motivação. O poder pagar as contas na mercearia, onde o rol dava um missal, era motivo de orgulho. O chegar a casa e mostrar fartura à mulher e aos filhos, “ Ah! que orgulho”.
“ 500 Paus o quilo do minério preto? Mas onde está isso, que vou já lá?”


As serras encheram-se de buracos. Escava, aqui escava ali, e nada!
“-Mas onde está o maldito, que só aparece aos Alemães? –
Então só havia um remédio. Ir trabalhar para os Alemães, que haviam chegado em força e sabedores já, onde poderiam atacar o minério até ali ignorado. Os contratados, trabalhavam então de sol a sol, escavando as entranhas da terra, seguindo o filão de quartzo mineralizado. Abriam galerias, escavando e enviando para o exterior o material escavado, que posteriormente seria lavado e escolhido (falo em termos genéricos, porque o processo é mais complexo). Eram autênticas formigas a trabalhar.

Uns escavavam, outros carregavam as vagonetas que transportavam a rocha e terra para o exterior, através de carris, enquanto outros iam escorando o espaço escavado, com troncos e tábuas. À saída do turno, cada um destes trabalhadores era apalpado e quantas vezes mandado despir, não fosse trazer algum pedaço de rocha com volfrâmio. Vinham cheios de lama, molhados mas, pior que isso, impregnados de silicose (a silicose é uma forma de pneumoconiose causada pela inalação de finas partículas de sílica cristalina e caracterizada por inflamação e cicatrização em forma de lesões nodulares nos lóbulos superiores do pulmão.Provoca, na sua forma aguda, dificuldade respiratórias, febre e cianose. Pode ser confundida como edema pulmonar, pneumonia ou tuberculose.) O quartzo é composto por tetaedros de sílica
Quartzo ? É isso! Estava ali o segredo, descobriram os que não se queriam sujeitar a trabalhar lá nas profundezas.
Em qualquer pedaço de monte, onde aparecesse um afloramento de quartzo, começavam a escavar, ao longo dele. Cinco seis metros e nada, nada do minério preto. Vinha então, ao de cima a malandrice, a ganância de riqueza rápida. Pegavam em pedaços miúdos da rocha branca, fritavam-nos em banha de porco, à lareira, porque o fumo sempre ajudava no embuste, até ficarem negros e luzidios.
Parecia Volfrâmio !.
No buraco já escavado, espalhavam o cozinhado e. faziam constar “à boca fechada” que em tal sítio começava a aparecer minério preto.
Depressa se fazia negócio. À calada, como convinha às duas partes!
“ Cinquenta, setenta notas de conto”.
Para uns riqueza efémera. Para outros ruína maior!
Havia um ritual que ficou célebre. O novo rico, adorava comer um caldo verde com bolachas. Era sinal de riqueza e de sucesso!
E para culminar a celebração, enrolar um pedaço de tabaco Águia numa nota de dinheiro, era motivo de orgulho.
Descoberto o embuste vinha a vingança. Os mais “espertos”, pegavam no dinheiro e família e mudavam de zona, para continuar o negócio.
Os trapaceiros que ficavam, ou morriam ou matavam, mas ficavam debaixo de olho, marcados pela má fama.
Entretanto, aqueles que continuavam a labutar debaixo da terra, iam ficando cansados e doentes. A tosse anunciava a tuberculose que aí vinha e a morte que se avizinhava. Os povoados começavam a encher-se de mulheres, algumas ainda novas, mas vestidas de negros, da cabeça aos pés. Só se viam viúvas, velhos mirrados e meia dúzia de crianças.
Os poucos homens que iam restando, ou se arrastavam pelos cantos, pálidos, lenço sempre à mão para …encobrir o que toda a gente via ou adivinhava. Estava por pouco, o desgraçado!
Os que restavam, andavam lá em baixo, nas profundezas, a gastar o resto das suas forças para ganhar o pão, para as suas famílias.
(continua)
Texto retirado do blog O serrano

sábado, 22 de novembro de 2008

No tempo do volfrâmio parte I


Tempo da Segunda Grande Guerra!
Pobreza extrema, miséria! Salazar joga com os dois blocos em confronto ( Alemanha e Inglaterra) de modo a não intervirmos directamente na guerra mas, fornecendo aos dois lados aquilo que na altura eram elementos imprescindíveis para sobrevivência humana e militar.

As conservas e o volfrâmio!

As conservas para alimentação das frentes de combate, e o próprio nome, conservas explica tudo, quer no tempo de consumo ou condições climatéricas, enquanto o volfrâmio tinha aplicações bélicas (essencial nos processos de reforço do aço, nomeadamente, nas blindagens, componentes de tanques, aviões, motores, etc)
O Litoral e em particular o Algarve, forneciam as conservas.
Trás-os-Montes e as Beiras, foram o principal fornecedor de volfrâmio para a I e II Grandes Guerras e posteriormente para a Guerra da Coreia ( década de 50)
Nestas duas zonas se estabeleceram Ingleses e Alemães, na exploração do volfrâmio.

Convém esclarecer um pouco de história, embora curta do que é o Volfrâmio.
Minério de Tungsténio ( do sueco Tung Sten, que quer dizer “ pedra pesada”) descoberto por Peter Wolf, daí chamada Wolframite. Mais tarde Peter Scheele descobre um outro tipo de Tungsténio: a Scheelite. A diferença entre os dois é que a Wolframite é um tungsténio de ferro e manganês enquanto a Scheelite é um tungsténio de cálcio.
Na gíria, ao tempo eram conhecidos por Volfrâmio Preto e Volfrâmio Branco, esta última. Contudo, ambos extremamente impostantes para a altura bélica, e caríssimos na época.
Vejamos.
O volfrâmio em 1942 estava oficialmente cotado ao preço de 150 escudos o quilo; no entanto no mercado livre vendia-se a 500 escudos chegando no pico do conflito mundial a transaccionar-se a 1000 escudos. Nessa altura um mineiro ganhava 18 a 20 escudos por dia e um trabalhador rural 7 a 8 escudos, importâncias que permitem relativizar o valor do metal na altura.
Imagine-se o que significava “arranjar” uma pedrinha com Volfrâmio!

Quanto representava para a família, 100 gramitas!
E se encontrasse uma mina?
E, se em vez de andar lá nas galerias, se roubassem os transportadores, que iam entregar o produto, no fim do dia ou da semana!
Fizeram-se fortunas num dia, ou num momento!
Desfizeram-se sonhos num instante.



(cont.)


Texto retirado do blogue Serrano

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Superstições


Quando passa um funeral na rua, se alguém está na cama deverá levantar-se, para não correr o risco de morrer (mais cedo deduz-se).

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Rua da Pereira

Casa na rua da Pereira: construção em granito com dois pisos e sótão. A cobertura desta habitação contraria a maioria das habitações da aldeia, com beiral paralelo à rua. Nesta casa o vão do telhado é exposto à rua, o que a torna quase única.