segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Casa dos nossos bisavós - aquilo que não se vê da rua

 Hoje entrei numa casa da minha família, onde não entrava há 57 anos.

Recordei momentos, detalhes da casa antes de fazerem as segundas obras… uma casa construída em 1794 onde viveram os meus bisavós, Ana Maria Palheiros e Joaquim Alves Furcado, e que acolheram muitos elementos da minha família. Ia para lá brincar com a São e a Agostinha, quando era criança. A Esmeraldina e a Graça são mais novas. Foi uma tarde especial, recordei eu e a São a fazermos os deveres ainda com uma caneta pena e tinteiro, recordei a minha avó Felisbela, a prima Maria da Graça, o primo Agostinho Palheiros e Alda (a esposa) e depois a geração seguinte, o Toninho, a São, Agostinha, Fernando, Adelaide, Graça, Esmeraldina e Agostinho. Recordei a minha mãe que me chamava do terraço da minha casa-
Achei tudo muito mais pequeno, lembro-me correr numa varanda toda de granito, que deve ter cerca de 8 metros, mas eu pensava que ainda era mais comprida.
Esta foi uma casa com muitas alterações, muitas pessoas, muitas mudanças. Uma casa de lavoura, de poço, de lagar, de vacas no pátio e o carro de bois a um canto. Tinha quatro escadas, incrível. Era uma casa de lavradores a sério. Havia vacas, cabra, estrume, poço, cereais a secar nas varandas, adega, porcos... Esta é uma casa icónica de Justes, que contém muitos segredos e mistérios desta comunidade, onde as famílias se comunicavam por dentro das casas e pelos quintais, sem sair à rua.
As casas raramente sobrevivem aos seus donos. Esta casa ficará na memória e no coração de todos os nossos primos (já lhe perdi a conta), todos bisnetos do casal que referi no início, alguns ainda mantêm o apelido, outros não.
Bem hajam, São, Agostinha e Esmeraldina que nos abriram as portas a mim e à minha irmã Ermelinda.




























São Palheiros, Anabela Quelhas e Agostinha Palheiros

sábado, 15 de julho de 2023

sexta-feira, 14 de julho de 2023

GLOSSÁRIO DE JUSTES (em construção)

 

GLOSSÁRIO DE JUSTES (em construção)

Abascado - parvo

Abascadório - parvalhão

Abrenúncio - exclamação de repúdio.

Aceirar - sentar descontraidamente tomando conta do espaço

Acusa-cristo - denunciador

Adjunto - multidão, ajuntamento de pessoas

Ahbô – expressão semelhante ao franceses Ah Bom utilizada quando alguém quer reforçar o que se diz, por vezes é utilizada com o significado astúcia de alguém que não se deixa enganar

Ahfeito - espanto, admiração, exclamação, por uma notícia considerada incrível.

Aldrábio – pessoa mal arranjada

Almotelia – galheta metálica em forma de cone com asa para servir o azeite na cozinha

Almotriga - almotelia

Almotrigueiro - mal arranjado

Amásia – amante feminino

Apresigo - conduto, ou seja o prato principal de uma refeição.

Arrebimba o malho - bate de novo

Arrecádias - argolas decorativas de usar nas orelhas.

Arrimar - atirar, lançar

Asseirar . sentar ocupando espaço como uma asseira (cesto)

Atrepecho - apetrecho; utensílio

Auga - água

Azado - jeitoso, adaptado ao que se pretende

Banaboia – “bon vivant”

Bancelho - cordão textil (palha ou giesta) para atar um molho de vides ou outro material.

Bandima - vindima

Banjolim - bandolim, guitarra pequena

Baranho . Superfície ou área que a gadanha consegue cegar.

Barbeiro – ar frio

Barriganas - pessoa com grande barriga

Bichanar - sussurrar

Boche - pulmão do porco

Bodas - gordo

Bonêcro - castanha mal desenvolvida que se encontra a envolver a verdadeira castanha, no interior do ouriço.

Bornil - bossal

Bornal - saco

Borra botas - pessoa insignificante

Bossal – indivíduo inactivo e parvo

Bosseiral – Bossal exagerado

Bosteiral - preguiçoso

Bouba - pequena ferida de criança e proferida para uma criança; "dói-dói".

Broeira - utensilio de madeirapara guardar as broas e que se suspende no tecto da despensa.

Calipto – eucalipto

Caniço - plataforma para secagem de castanhas localizada sobre o lume

Canjirão -jarro ou cabaça grande para vinho; safado, malandro ou aldrabão (em sentido pejorativo)

Canório - tronco do milho até meio da planta

Carretas - alguém que sempre carrega algo para casa no sentido de recoletor

Catóbio ou mosquete - pequena pancada dada com as pontas dos dedos em sinal de repreensão.

Cismar - pensar de forma pessimsta.

Chavelha - travessa para fazer a travamento entre a caqbeçalha e o jugo, através do tamoeiro

Chedas – pessoa displicente

Chedes – Traseira do carro de bois

Chiasco – ar frio

Chorinhas - individuo que está sempre a lamentar-se

Chubisco - chuva miúda; chuvisco.

Comandita - grupo de pessoas ou crianças de pouco valor

Cornelho – semente de papoila

Corropio – andar apressado e agitado

Cum caneco - exclamação, incrédulo

Dar o arroz - fazer as contas, ajuizar e repreender

Engadanhar - andar à bulha,

Enterbalo - intervalo.

Entrepicar - implicar

Escabaterra – toupeira

Escanar – tirar o pendão do milho; passar rápido

Escaniçada - magra

Escaranfunchar – intrometer, procurar com empenho

Esfraldicada - mal arranjada com fraldas de fora

Esganiçada - voz aguda pouco harmoniosa

Esgranar – separar os grãos

Esmifrada - magra

Esprito – espírito

Estadulhada - batida com estadulho

Estenganhadas - pauladas, sopapos

Estrela e bêta - rebelde, levado do diabo

Estroncar – apertar com corda e pau

Estronçar - desfazer

Estropício - impecílho

Esturricado - queimado

Esturro - problemas, complicação

Fataicho - vestido mal apresentado

Fogacho - tiro

Fedelhar - estar sempre a repetir o mesmo provo

Fedúncio – indivíduo enfadonho

Ferrã – tipo de erva

Ferracatel - homem pequeno de pouca serventia

Folhato - folha do milho

Fueirada - batida com fueiro

Gabela – pequeno molho de lenha que se transposta no braço

Gasguita - rapariguita

Gatafunho – escrita mal elaborada

Geringonça – aparelho improvisado esquisito que resolve um determinado problema

Ginga - bicicleta

Gorgomilo - pomo de adão

Grabano - utensílio utilizado na agricultura para rega, servindo para retirar agua de, um poço, tanque ou deposito, e passá-la para outro local. É formado por um balde atravessado por um cabo de madeira que permite o seu manuseamento.

Gramilo - fecho de porta.

Indrominar - enganar

Lá voltam os feijões para casa da Apolinária - tudo se vira ao contrário, virar para trás, inverter

Ladranho - caniço em madeira em forma de aduela colocado lateralmente para conter cargas no carro de bois; dar cabo dos ladranhos - aleijar-se nas costas

Lamaroto - de Lamares

Lamiré – dar o lamiré dar o alerta

Laparoto – rapaz gordo

Lapouço - indivíduo pouco ágil e preguiçoso.

Leitorigo – leitão muito pequeno

Leirão - rato grande

Macumbeiro – praticante de outra religião que não a católica

Mandicante – macacório, malandro

Mandilete . recado de pouco valor 

Mantrasteiro – Amante (sentido pejorativo)

Mastroncio – homem mal arranjado.

Meei-te – fiz pela metade

Mirone – pessoa indiscreta no olhar, “voyeur”

Miscrar – procurar com curiosidade

Missacras – indivíduo que anda sempre na igreja ou atrás do padre; individuo que come muito, ou seja come como um padre guloso.

Môcho - bando

Nespra - nespera (fruta)

Óbem no digo eu - incrédulo

Omesoitra - exclamação de espanto, nunca se viu

Palhitos - fósforos

Palhuço - palha miúda.

Parafusa – instrumento de madeira para torcer a lâ.

Parança - estar parado

Paridura – acção de parir

Pestiçar - choramingar ou fazer de conta.

Pia além - por aí fora.

Pião das micolas - vítima

Pega no céu - pasmado

Pincha na xanca - põe-te a andar, desaparece

Pichel – pichorro pequeno

Pichorro – vasilha de barro de servir vinho

Pimpolho - bébé gordinho

Pincha no crivo - pessoa sem crédito, q muda de opiniao consoante a conveniência

Pintaíba - falência

Pitogrou - estouvado, desmiolado

Polbro – polvo

Poupo - carrapito de cabelo na parte posterior da cabeça

Prosa - asseado, vaidoso

Prosápia - vaidade

Pucro - púcaro

Quenguenho - caule estruturado do cacho de uvas

Rais te paira - tolo

Ramada (estar com) - embriaguez

Rapança – pequena pá para mexer as brasas da braseira

Rato de almiscara - curioso, bisbilhoteiro

Repas - madeixas de cabelo

Repudo – portador das repas

Repiocar – dançar às voltas; passear

Ripeirada – acção agressiva realiza com uma ripa ou ripeiro

Ripeiro – ripa mal feita

Roças - mal vestido

Rodilha - pano torcido dobrado em espiral que serve de apoio ao caneco quando se coloca na cabeça. Serve para suavizar o peso e a forma do caneco adaptando à forma da cabeça.

Rodizio – andar num rodízio, andar atarefado

Rombudo - arredondado

Roto - aberto para emitir gases ou esfomeado

Sacripanta - desonesto

Sacristas - anda sempre a adular o padre e o sacristão

Sardanica - menina com sardas

Sardina - bofetada, porrada

Sarilhal - sarilho (tirar terra dos poços)

Saruga - espinha de peixe

Serrubicar - beliscar

Sigorelho - criança

Sofrisca - rapariga magricela e atrevida

Sostra - molengão

Talefe - ponto de cota mais elevada de uma serra.

Tamoeiro - peça de couro circular que prende o tamoeiro à cabeçalha, trvado com a chavelha

Tanger - guiar

Tenir – ausência normalmente de dinheiro

Trampolineiro - trapaceiro, pantomineiro

Treitoira - peça para segurar o eixo do carro de bois

Trinca espinhas - rapaz ou rapariga muito magro (a)

Trinçar - partir lenha fina (giesta)

Trisorelho - papeira

Toar - trovejar.

Tresouvir – ouvir deturpado

Tropeça - calhau (doi-te a cabeça, da-lhe com uma tropeça)

Vestionário – vestido largo

Vassouro - agitado, sempre a mexer

Xocas – tufos de cabelo emaranhado incapaz de ser penteado

Zabar - descompor

Zanoco - coto.

Zarelhar – ser irrequieto

Zarelho - criança irrequieta.

Zipra - zeripela (doença)

Zoar - soar

Zopeira - amante

Zurário - agiota; ganancioso

sábado, 30 de julho de 2022

PROGRAMA DA COMEMORAÇÃO DOS 800 ANOS DA CARTA DE POVOAMENTO DE JUSTES


 Programa da comemoração dos 800 anos da Carta de Povoamento de Justes.


CARTA DE POVOAMENTO DE JUSTES




Carta de povoamento concedida a Justes, em Constantim

No dia 1 de Agosto de 1222, em Constantim, “D. Mendo, abade do mosteiro beneditino de Pombeiro, outorga carta de povoamento aos fundadores da aldeia de Justes."

A.D. B., Registo geral, n.° 342, fl. 115 v.

«JUSTES aldea

Item mais ha o senhor arcebispo e a sua camara de Sam Lourenço de Riba Pinham hũa aldeea que chamam Justes da quall mostraram os moradores della este forall que se adiante contem:

Os quaaees moradores juntamente pollo juramento dos Santos Avengelhos diserom que pagavom da dicta aldeea cada anno XVI maravedis de booa moeda antiga e mais huum carneiro e oyto galinhas e al non. Os quaaes diserom que o dicto termo partia per o termo do Castello e dis i polla Fonte do Vall do Cervo e dis i ao Coto de Saa e como se vay aa Palla do Seixo e di como se vay ao Carvalho Torto e como se vem ao ribeiro do Castinheiro augua vertente e como se vem ao Porto das Leiras Novas honde see o marco d'antre a dicta aldeea e Cepedes e des i como se torna aos Outeiros Gemeos e como se vay a Pedra Fiell e como se vay aa olla do Poço Mourisco e como parte com o couto de Parada e como se vay ao Outeirall e como se vay ao Poço das Ollas e dis i como se vay per Pinham arriba ataa o ribeiro de Santiago e dis i como se vay pollo ribeiro acima ataa o muro de Joham Antoninho e como se vay aa Fontinha Travessa e como se vay aos pousadoiros de Pinhancell e como se vay aa Fonte Fria e como se vay aa Corvaceira Maior e como se vay aa Corvaceira Mior e dis i a Fonte de Vall do Cervo onde primeiro começamos.

E mais pagam de pam huum quarteiro de pam cozido, convem a saber, de seis alqueires de centeio e mais de cevada outros VI alquires.

Os quaaees foros an de pagar cada anno na camara de Sam Lourenço em paz e em salvos."

Retirado de “O povoamento das aldeias transmontanas de Gache, Justes, Torre e Soudel no Século XIII”, José Marques, in “Estudos Transmontanos”, nº1


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Avelino de Sousa Campos

 Avelino de Sousa Campos Nasceu no lugar do Prado (Borbela), em 10 de Novembro de 1905, e foi baptizado, em 19 de Fevereiro de 1906, na igreja de Borbela. No assento de baptismo vem referido (transcrito sob o n.º 129, do livro 11, de 1924), que foi emancipado por sua mãe, em 27 de Outubro de 1924 (ADVR/Registo de baptismo n.º 11 de 1906 – Borbela). Casou com D. Maria Jenny Fernandes e Silva de Sousa Campos que foi professora da Escola Industrial e Comercial de Vila Real. Foram pais de Teresa da Silva de Sousa Campos, nascida em S. Pedro (Vila Real), em 21 de Janeiro de 1946. (ADVR/Registo de passaporte nº 501/1964, de 4 de Agosto de 1964). Avelino de Sousa Campos licenciou-se em Direito, pela Universidade de Coimbra, foi advogado e professor. Foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, nomeado em 30 de Novembro de 1944 (Diário do Governo, nº 289, de 13.12.1944) tendo sido exonerado, a seu pedido, em 31 de Outubro de 1947 (Diário do Governo, nº 259, de 6.11.1947). Foi deputado da Assembleia Nacional na V Legislatura (1949-1953). As suas intervenções parlamentares foram as seguintes: Na 1.ª Sessão Legislativa (1949-1950) – Discussão do aviso prévio do Sr. Paulo Cancela de Abreu sobre a crise do turismo em Portugal. Considerações sobre o vinho do Porto, Federação dos Vinicultores da Região do Douro e plantio da vinha. Na 2.ª Sessão Legislativa (1950-1951) – Justificou um aviso prévio, que apresentou, relativo a assuntos judiciais. Referiu-se à pretensão de uma anexação de freguesias a outro concelho. Na 3.ª Sessão Legislativa (1951- 1952) – Não registou intervenções. Na 4.ª Sessão Legislativa (1952-1953) – Tratou da situação gravosa das empresas concessionárias de volfrâmio em certas regiões do País. Discutiu, na generalidade, a proposta de lei relativa ao Plano de Fomento 3 . Foi procurador à Câmara Corporativa em 1965, 1969 e 1973, como representante da lavoura e das entidades patronais 4 . Na qualidade de procurador à Câmara Corporativa participou na XI Legislatura (1973-1974), no Projecto do IV Plano de Fomento para 1974-1979 (Continente e Ilhas) – Anexo IV – Agricultura, 3 https://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/c/campos_ avelino_de_sousa.pdf 4 ALMEIDA, Maria Antónia Pires de (2014) – Dicionário Biográfico do poder local em Portugal 1936-2013 – e.book, Lisboa, 2014, ISBN 9789892039886 - 18 - Silvicultura e Pecuária 5 . Foi Presidente da Comissão Distrital da União Nacional e diretor do jornal Ordem Nova, órgão oficial da União Nacional no distrito de Vila Real. Foi Presidente do Grémio da Lavoura de Vila Real, presidente da Federação dos Grémios da Lavoura de Vila Real e Alto Douro e vogal da direcção da Corporação da Lavoura. Avelino de Sousa Campos viveu no lugar do Prado e faleceu, em Vila Real, em 30 de Março de 1974.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Machados de Justes

 

MACHADOS DE JUSTES

João Gonçalves Costa

Quando, por finais de Fevereiro de 1964, os operários que procediam

à terraplanagem de um terreno onde a firma A. Taveira & Companhia Ld.ª

ia construir a sua fábrica de serração de madeiras, no lugar de Couços,

Justes, ficaram surpreendidos com o achado de cinco pedras que lhes

pareceram invulgares. As estranhas pedras foram guardadas, embora uma

delas infelizmente se tenha extraviado posteriormente.

E  eram,  de  facto,  invulgares.  As  pedras,  que  tinham  sido

primorosamente afeiçoadas há quase 4 mil anos, por homens do Neolítico

ou do Eneolítico, pertenciam a uma classe de instrumentos a que se dá o

nome genérico de machados, quer se destinassem a uso prático corrente,

quer a rituais religiosos, como parece ser o caso destes.

Mais tarde, e não muito longe daquele local, no sítio de Bouças,

apareceu  um  sexto  machado,  um  pouco  menos  perfeito  do  que  os

anteriores, mas com idêntico valor histórico.

Curioso é notar que um dos machados, é feito de fibrolite, rocha que

não se encontra na região, nem sequer na Península Ibérica, o que nos diz

qualquer coisa sobre as migrações e as relações comerciais dos homens

de dois mil anos antes de Cristo. Os restantes são de xisto metamórfico,

rocha vulgar na região.

Combinando estes achados com outros realizados em áreas próximas,

nomeadamente vestígios de cerâmica e monumentos megalíticos, é de

admitir  que  os  homens  que  os  fizeram  e  usaram    se  encontrassem

sedentarizados.

Finalmente, refira-se de passagem que toda a zona de Justes é muito

rica do ponto de vista arqueológico, com importantes vestígios dos tempos

megalíticos, da época castreja, da idade do bronze e da romanização.


in Escapas do Corgo