sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Machados de Justes

 

MACHADOS DE JUSTES

João Gonçalves Costa

Quando, por finais de Fevereiro de 1964, os operários que procediam

à terraplanagem de um terreno onde a firma A. Taveira & Companhia Ld.ª

ia construir a sua fábrica de serração de madeiras, no lugar de Couços,

Justes, ficaram surpreendidos com o achado de cinco pedras que lhes

pareceram invulgares. As estranhas pedras foram guardadas, embora uma

delas infelizmente se tenha extraviado posteriormente.

E  eram,  de  facto,  invulgares.  As  pedras,  que  tinham  sido

primorosamente afeiçoadas há quase 4 mil anos, por homens do Neolítico

ou do Eneolítico, pertenciam a uma classe de instrumentos a que se dá o

nome genérico de machados, quer se destinassem a uso prático corrente,

quer a rituais religiosos, como parece ser o caso destes.

Mais tarde, e não muito longe daquele local, no sítio de Bouças,

apareceu  um  sexto  machado,  um  pouco  menos  perfeito  do  que  os

anteriores, mas com idêntico valor histórico.

Curioso é notar que um dos machados, é feito de fibrolite, rocha que

não se encontra na região, nem sequer na Península Ibérica, o que nos diz

qualquer coisa sobre as migrações e as relações comerciais dos homens

de dois mil anos antes de Cristo. Os restantes são de xisto metamórfico,

rocha vulgar na região.

Combinando estes achados com outros realizados em áreas próximas,

nomeadamente vestígios de cerâmica e monumentos megalíticos, é de

admitir  que  os  homens  que  os  fizeram  e  usaram    se  encontrassem

sedentarizados.

Finalmente, refira-se de passagem que toda a zona de Justes é muito

rica do ponto de vista arqueológico, com importantes vestígios dos tempos

megalíticos, da época castreja, da idade do bronze e da romanização.


in Escapas do Corgo

Sem comentários: