100 ANOS
100 anos é uma conta inteira, arredondada, perfeita, quando é calculada com lucidez, e com os órgãos dos sentidos a funcionar razoavelmente.Pasmem, ainda lê sem óculos. Uma centena de anos de vigor.
Este é o meu tio que hoje faz 100 anos.
Alberto Correia é o meu tio secular.
Gosto dele. Sempre me ensinaram a respeitá-lo e eu sempre o fiz.
Juntamente com o meu pai, ele é um dos meus modelos de seriedade, frontalidade, bondade,determinação, responsabilidade e com várias capacidades para lidar com as adversidades da vida, que eu sempre admirei.
Nasceu em 1912, ultrapassou a 2ª guerra mundial, resistiu à migração para o Brasil, resistiu à migração para Angola e Moçambique, resistiu à emigração para a França nos anos sessenta.
Foi agricultor, sempre.
Até há bem pouco tempo nunca teve férias, nem fins de semana, mas teve sempre tempo para ajudar os outros.
Em novo, era um homem bonito, hoje também. Fazia-me lembrar os actores do cinema francês contemporâneos de Delon e Belmondo. Magro, malares salientes, sobrancelhas espessas, olhos claros e expressão séria.
Sempre usou chapéu.
Não ficaria mal num filme policial.
Intervalou 2 anos na exploração de volframite, na 2ª guerra mundial, mas sempre foi agricultor, daqueles de arado ou tractor, de enxada ou de segadeira, carregando ou descarregando feno.
Como ele me parecia alto quando o via no cima de carro de feno!!!!
Não tinha despertador, mas sempre se levantou cedo e deitou tarde, compensando a falta de horas de sono com pequenas sestas à mesa no final das refeições.
Também sempre foi paciente.
Hoje perguntei-lhe: Qual é o segredo tio? Qual é o segredo para se chegar aos 100?
Respondeu-me com um centenário no olhar: Trabalho, muito trabalho!
Depois de ter abandonado a leitura do Seringador em frente à salamandra, ofereci-lhe flores, vibrantes, e depois partilhámos um saboroso bolo de maçã.
AQ
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