UM PESADELO… AFINAL NÃO
Escrevi o último artigo a 7 de março
e foi publicado 4 dias depois. Escrevi sobre o Corona Virus, mas estava longe
de imaginar o drama em que se converteu, apesar de informada.
Ainda fui festejar o Dia da Mulher
num restaurante lotado de mulheres que riram alegremente toda a noite. Saí sem
precauções, nem me passou pela cabeça não ir ao jantar para evitar contágios.
Não imaginava que hoje, quase 20 dias depois, estaria em casa em isolamento há
17 dias, com saídas muito condicionadas, a ver televisão de manhã à noite,
preocupada com o rumo que isto tomou e sem fim à vista.
No dia 9 de Março as faculdades de
medicina encerraram por recomendação do Conselho das Escolas Médicas
Portuguesas – este foi o verdadeiro alerta para alguns portugueses, apesar dos “achistas”
e dos “tudólogos” que iniciavam a sua epidemia da desinformação.
No dia 12 a UTAD fechou.
A partir desse dia recolhi-me em
casa, preocupada com os infinitos contactos que uma escola ocasiona diariamente.
Nestes vinte dias vivemos situações
que só tínhamos visto no cinema de ficção e julgávamos de vivência improvável:
Escolas encerram | Tele trabalho improvisado a arranca em
força |Corrida aos desinfectantes e à comida nos supermercados |A epidemia em
Itália assusta |A “morrinha” começa na zona norte | Morre Gregotti | Faço um cálculo grosseiro
sobre a razão de casos de cada dia e tomo a noção dos números futuros que se
vão cumprindo nos dias seguintes |A descordenação inicial confronta-se com as criticas
daqueles que pensam que tudo é muito simples de organizar | Assunto domina
todos os canais da televisão |Esgota-se o papel higiénico, álcool nem vê-lo,
luvas às vezes e o desinfectante tenho um frasco que sobrou da gripe A | Todos
tomam vitamina C | Um presidente da republica bem-intencionado mas um pouco
valentão acaba em quarentena | Tenta-se uma corrida contra- relógio para evitar
o pico da gripe | O primeiro ministro mostra empenho e competência para tentar
organizar esta guerra invisível | Os militares de prevenção montam tendas de campanha | Os prevaricadores
ignorantes apanham sol na praia de Carcavelos e na Póvoa de Varzim |O
crescimento é exponencial dos casos infectados confirmando as previsões |O
pesadelo vive-se no norte da Itália e em Espanha mesmo aqui ao lado | Contam-se
munições – 56 comprimentos benurons e os bruffens para duas semanas de
tratamento e ventiladores, máscaras luvas, fatos, viseiras e faltam,
faltam | Os lares de idosos são infectados
e os casos são logo às dezenas | As urnas em Madrid alinham-se no Palácio do
Gelo | É declarado formalmente o Estado de Emergência ! A
cidade de Ovar está isolada e seguem-se outras cidades |A guerra do inimigo
invisível…
MEDO
As contradições dos neoliberais manifestam-se| Trump, Bolsonaro
e Boris armam-se em valentões defendendo a teoria do resfriadozinho | Falta
equipamento de protecção | Os que foram de férias já com a pandemia a alastrar,
não conseguem regressar e reclamam | Um ministro diz que o governo não é uma agência
de viagens | Os concertos #ficoemcasa animam a malta | Os emigrantes voltam para
Portugal e alguns fogem da quarentena | As fronteiras são cortadas | As fakes
news reproduzem-se | A teoria da conspiração impera |Os médicos cubanos vão
ajudar a França | Faltam ventiladores nos hospitais |As despensas enchem-se de
enlatados | A onda de solidariedade inicia-se — industriais tentam produzir
equipamento | Os professores cooperantes em Timor têm a sua segurança em risco
| Falo por vídeo com a família e amigos que já não vejo há 20 dias | A ilusão
que os hospitais privados vão receber infectados a custo zero | O príncipe
Carlos infectado e Alberto do Mónaco também | Sua majestade exibe mascaras da
cor dos seus vestidos exuberantes | Boxers são transformadas em máscaras e
toucas (o engenho) | O humor negro circula na net | Anunciam-se despedimentos e
desemprego |Os economistas desenham os piores cenários | Rui Rio abandona a Assembleia
para dar o exemplo (gostei) | Daniel Sampaio explica na televisão, o pânico e o
medo | Os Jogos Olímpicos são adiados | Alerta Laranja para Lisboa, Porto e
Aveiro |Boris está infectado |O 2º período termina e os pais reclamam contra o
excesso de tarefas que chegam a casa | Afinal não é um vírus,
é uma proteína | A Espanha compra testes defeituosos | Avião chega da China sem
ventiladores, com 24 de 35 toneladas previstas, de fatos, máscaras e luvas | Os médicos estão apreensivos, daqui a dias
terão que escolher quem vão salvar |O Conselho Europeu e a intervenção do
ministro das finanças da Holanda ficam para a História desta Europa cheia de
contradições | Costa reage indignado e
bem | Francisco reza sozinho na praça de S. Pedro, vazia. | Máscaras de
mergulho são transformadas em ventiladores – a improvisação dos portugueses / O
pico, felizmente, transforma-se em planalto, para Maio.
Espanha totaliza 5690 mortos, com 7871
novos casos | Portugal totaliza 5170 infectados e 100 mortos | Itália 40 mortos por hora e perde-se
contabilidade rigorosa (28 de Março)-
Quando tenho que sair de casa, é um
pesadelo – por o gorro, vestir um fato de treino, arranjar uma estratégia de
contacto mínimo com supostos infectados, colocar as luvas e máscaras e saber
como e quando retirá-las. As informações por vezes contradizem-se. Esta é uma
guerra, sem tiros e sem bombas, mas com o número de mortos a crescer. É uma
guerra de ficar em casa. Os hiperactivos queixam-se, como se estar em casa fosse
algo terrível…. Nunca ouviram a metralha noite e dia! distraem-se com cantorias
à janela e aventuras no sofá.
Todas as manhãs acordo convencida que tive um
pesadelo… afinal não. Em menos de 20 dias o país quase parou… até quando?
Anabela Quelhas
Publicado a 30/03/2020 em https://www.noticiasdevilareal.com/um-pesadelo-afinal-nao/
Nota, o virús chega também a Justes.
2 comentários:
E que pesadelo.
Aqui do outro lado do Atlântico, as contradições neoliberais que você citou no seu artigo, seguem sem parar, há "carreatas" de apoio e incentivo para que restaurantes, escolas e lojas sejam reabertas. Mantendo-se em isolamento apenas os grupos de risco (maiores de 60 anos, doentes etc...).
Governadores de Estado, seguem com o isolamento total, mantendo praias, escolas e parques fechados, funcionando apenas os serviços essenciais.
Mas o debate continua, entre "verticalização do isolamento" X "horizontalização do isolamento".
A questão é que há um debate com "viés" político/econômico, de uma questão que é médica, mesmo que venha a ter implicações inevitáveis na economia.
As consequencias serão catastroficas para todos. Veremos se isto tem fim. Os nossos vizinhos espanhois e italianos arrependem-se amargamente por não terem adoptado a quarentena mais cedo. Nós por aqui tivemos a sorte de nos anteciparmos um pouquinho à tragédia.
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