O Manuel da Benvida, como era conhecido,
para mim tio Manuel, veio de Parada do Pinhão para casar em Justes com Benvinda
Palheiros Almeida, minha tia. Quando queriamos brincar com ele chamavamos-lhe
carinhosamente Prosa de Parada, que ele aceitava de bom agrado.
Homem trabalhador, honesto, afável,
simpático e bom dançarino. Para mim, era o elemento da minha família com mais
paciência para as crianças, tendo-me proporcionado vivências inesquecíveis.
Trabalhava de sol a sol e ao final da noite, ainda tinha paciência para brincar
com os filhos e os sobrinhos. Nunca o vi mal disposto e nunca ouvi uma palavra
desagradável dirigida a ninguém.
Vivia numa casa localizada perto
da igreja, subdividida em duas habitações, a de cima onde vivia a minha avó e
uma das filhas, e a de baixo, onde via o casal mencionado. Esta casa será sempre
o principal espaço das minhas memórias. Curiosamente, eram visitados diariamente
por vários elementos da família que ao entrarem nessa casa, se dividiam naturalmente
da seguinte forma: em cima ficavam os adultos, onde se falava de coisas sérias
e os mais novos, discretamente, retiravam-se para a escada de ligação à
habitação de baixo, indo ter com o tio Manuel, para se divertirem. Se havia música,
as sobrinhas sempre o desafiavam para um bailarico, porque ele dançava muito
bem e alinhava connosco em muitas brincadeiras. A partir de certa altura tinha
sempre uma garrafa de vinho fino ou jeropiga para brindarmos à vida e ao amor
que nos unia.
Quando a vaca paria, chamáva-nos
para discretamente espreitarmos para a loja (estábulo), de um sítio estratégico,
que tinha para observação, para que a vaca não fosse perturbada. Quando as
espigas de milho estavam no ponto, trazia e oferecia-nos espigas assadas, e
quando as castanhas do caniço, já estavam secas eram a guloseima do serão.
Sempre me permitia sentar-me nas chedas do carro de bois ou então ir dentro da
dorna até à vindima. Acompanhava-nos nas festas e arraiais, ocupando na minha
memória um lugar muito especial.