sábado, 25 de julho de 2009

Conheci-os a namorar



Manuel Rodrigues e Rosália Almeida
Para mim, afectuosamente são, o Manel Careca e a tia Zá.

Ele, a quem a alcunha nunca fez qualquer tipo de mossa, é um homem trabalhador, honesto e grande contador de estórias.
Algumas estórias nasceram da observação de situações, resultantes de muitos anos de estrada, outras talvez reinventadas e apoiadas na sua capacidade de observação acutilante e fruto da personalidade curiosa e engenhosa que possui, sublinhadas por um grande sentido de humor.
É um imitador nato, conseguindo enriquecer as suas estórias com imitações personalizadas, partilhadas apenas nos círculos familiares mais próximos, de que tenho o previlégio de pertencer. Tem a capacidade de caricaturar personagens e situações evidenciando sempre as vertentes ridículas de certas situações tornando-as hilariantes e inesquecíveis.
Imita a voz, a postura e o movimento, não deixando duvidas sobre a sua fonte de inspiração, seja homem ou seja mulher.

Ela, a mulher que talvez tenha curado mais cabeças rachadas e joelhos esmurrados do termo de Justes. Quem nunca passou pelos seus primeiros socorros radicais? Para as crianças e medricas, e quando o ferimento não se apresentava com gravidade, a água oxigenada era aplicada com mestria; para os mais valentes e sempre que se justificava, o alcóol puro, fazia qualquer acidentado realizar viagens espaciais rodeado por dezenas de estrelinhas a rodar. Quem disse que as estrelas são astros sem movimento enganou-se redondamente.
Quanto mais ardesse, melhor. Era sinal de cura - assim ia conformando os acidentados.
Claro que isto era no tempo em que o betadine não existia.
Lembro-me de olhar com olhos lacrimejantes e esbugalhados para uns centímetros cúbicos de espuma, que expulsavam diversas areias de minha coxa direita, num belo dia, aos 6 anos de idade, quando resolvi experimentar, a maciez de uma lageta de granito, em plano inclinado, ao fundo da rua da Pereira. Apesar da tenra didade fui presenteada pelo tratamento dois em um, álcool puro + água oxigenada q.b., que me fez entrar definitivamente na era espacial.
Não pensem que a tia Zá se trata de uma pessoa insensivel. Não, pelo contrário, trata-se de uma pessoa sensível, bondosa, de lágrima fácil, solidária, divertida, prestável, com carradas de paciência e que, com muita doçura, lá ia ensopando os ferimentos de uns e de outros com o líquido ardente.

Conheci-os a namorar e troquei-lhes alianças.

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