sexta-feira, 31 de julho de 2009

OS RAMOS DE JUSTES



Em várias localidades existe como tradição a festa do ramo.
Normalmente são tradições da cultura pagã ocidental (ver paganismo), que resistiram ao longo dos séculos, interligadas com a natureza, com os seus ciclos de produção e renovação e respectivas simbologias.
Uns veneram o pão ou os seus derivados, outros veneram a carne.
Ambos são símbolos de abundância. Prestar culto ao pão é festejar o trabalho de um ano inteiro, propiciar os bons augúrios, ofertando aos seres superiores, deuses ou santos, os mesmos frutos da terra que ali se consomem religiosamente e que se desejam multiplicados por muitos para o ano inteiro. Havendo abundância de pão haverá certamente abundância da carne.
Estas manifestações da cultura popular ocorrem em diversas datas, consoante a localidade.
No solstício de Inverno, localizado muito próximo do Natal e do ano novo, é uma época que combina bem com a simbologia da renovação da natureza.
No solstício do verão está a natureza na sua pujança máxima, quando os dias são maiores, e se festeja o inicio das colheitas e a fertilidade dos campos.


Em Justes é o solstício de verão que é festejado, mas integrado no calendário religioso, e o ramo aparece com uma simbologia que é vivida mas desconhecida dos seus habitantes, pois o verdadeiro significado perdeu-se nos costumes dos antepassados.
Até onde nos leva a memória, o ramo construía-se na festa de Sta Maria Madalena e servia como testemunho, sendo ofertado aos mordomos da festa do ano seguinte. No entanto a veneração é dedicada claramente ao pão, transformado delicadamente em folhas através de doçaria fina, gostosas rodelas cobertas de açúcar, denominadas de cavacas. O significado é certamente de abundância.
A estrutura do ramo pode ser em madeira ou metal. A sua forma de roca, deverá permitir que seja transportado e onde seja possível suspender a doçaria por anéis. A estrutura é guardada de ano para ano. A doçaria é feita segundo a receita das cavacas, com cobertura de açúcar branco, por vezes enfeitadas apenas com baixo relevo, traçado com o rabo de uma colher sobre o açúcar, outras vezes salpicadas com pérolas comestíveis prateadas.
A suspensão obedece a uma regra para que o efeito final fique perfeito.
As cavacas são furadas com agulha e linha e suspensas na armação da roca no sentido da base para o topo, numa lógica regular, que resultem sobrepostas e ordenadas, e que revistam totalmente o exterior da roca.
Da armação soltam-se pequenos harmónios coloridos, resultantes de um origami transmontano e colorido que contrastam com o branco das cavacas.
Fecham no topo com flores, um pequeno arranjo de frutas, preferencialmente um bonito cacho de uvas, e um pão-de-ló. Este último pormenor é o fechar do círculo divino, o pão e o vinho.
O ramo é executado no dia anterior à festa.



Entrar ou não na igreja é uma questão que ainda hoje gera atrito entre o cristão e o pagão.
O ramo não vai na procissão.
O ramo é resguardado do desfile religioso, de andores anjinhos, pálio e promessas, de ares ciscunspectos sublinhados por silêncios, por sofrimento e por alegrias contidas.
Depois, no final da procissão e da conclusão dos rituias de encerramento da igreja, o ramo sai à rua, em festa profana, percorrendo toda a aldeia ao ritmo da musica tocada pela banda, e são transportados por rapazes e raparigas que dançam e se divertem festejando e renovando o ritual pagão; depois é entregue aos mordomos do ano seguinte.
A tradição pagã é colada à festa religiosa, com maior ou menor adaptação. O pormenor do vinho, simbolicamente representado, é uma nítida combinação com o sangue de Cristo para dar alguma legalidade ao ritual.
Os naturais de Justes prezam bastante este ritual.
A saída dos ramos foi interrompida durante anos (anos 60 e 70). Em 1975 renovou-se a tradição. As cavacas foram confeccionadas na casa onde pela ultima vez tinha ficado o ramo antigo(casa de Joaquim Correia), os mais velhos orientaram e quem teve a iniciativa foram alguns jovens da época: Albertino Correia, Glória Correia, Maria Augusta Correia e Maria Ermelinda Quelhas. Eu dei apenas uma pequena ajuda.
Fotos desse ano onde estão? Façam-nas chegar aqui ao blog se faz favor.

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