quinta-feira, 11 de junho de 2020

ALETRIA


Era um velho solitário, grande e desajeitado com as coisas da cozinha, habituado com as tarefas rudes da lavoura, em que tudo o que parece, é, e a força bruta resolve quase tudo. As subtilezas da culinária, passavam-lhe ao lado, por insensibilidade e ignorância.
Um dia foi ao Vieira fazer umas compras e deparou-se cm a novidade da massa para fazer aletria, arriscou e comprou. Apeteceu-lhe uma guloseima. Chegou à sua cozinha escura de pote na lareira a fumegar, onde tudo era muito rudimentar, apenas tinha o necessário para fazer o caldo. Preparou ao lume, a calda e o acúcar como lhe explicaram que se fazia e deitou-lhe toda a aletria que tinha comprado. Não contou que a aletria crescesse imenso ao cozer. Nunca ninguém lhe tinha explicado.
A aletria começou a crescer e a sair da panela. Ele não tinha mais nenhuma panela, foi buscar os dois pratos que tinha  e uma malga e esvaziou um pouco a panela… mas a massa crescia e transbordava. O pote estava com o caldo, não poderia utilizar, foi buscar o púcaro da água, e a aletria crescia… ele não tinha mais nenhum recipiente para recolher tanta aletria. Foi chamar a vizinha, que já estava à janela rindo-se da sua desorientação, não se oferecendo para o ajudar.
Restava-lhe o penico.

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