JUSTES A nossa herança cultural também é formada por malhas de afectos que nos ligam aos sítios e às pessoas, definindo e justificando cada vez melhor as viagens que oscilam entre passado e futuro. Referências, laços, percursos e registos que só são valorizados pelos que partilham essa herança.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Visita da família Torres
Sob os tímidos raios solares de uma tarde de Outono, recebi a família Torres em Vila Real, com o objectivo de os acompanhar a Justes.
O Eduardo já conhecia. Carlos e Denise já tínhamos comunicado via net, faltava só conhecer a simpática Carolina.
O gelo quebrou-se rapidamente, nascendo uma grande empatia entre todos.
O tempo escasseava, não houve tempo para apresentar Vila Real, seguimos directamente para Justes. Receava que o frio do final do dia acabasse por afectar a saúde dos meus amigos.
Apresentei-lhes Justes, a panorâmica geral, as características geográficas da aldeia, a sua história, os apontamentos de arquitectura popular dignos de registo, a igreja onde se baptizou tanta gente, os túmulos dos antepassados, a casa onde teria vivido o avô de Carlos, as ruas, o granito telúrico que sustenta os espaços habitacionais,.... tentando resgatar a vivência rural autentica, ilustrando as imagens que certamente passarão a habitar nas suas memórias.
Visitamos a simpática D. Celina e Osvaldo, familiares de Carlos, que mais uma vez nos receberam, servindo-nos os petiscos característicos de Trás-os-Montes, e partilhando as suas memórias com todos os presentes.
O gelo quebrou-se rapidamente, nascendo uma grande empatia entre todos.
O tempo escasseava, não houve tempo para apresentar Vila Real, seguimos directamente para Justes. Receava que o frio do final do dia acabasse por afectar a saúde dos meus amigos.
Apresentei-lhes Justes, a panorâmica geral, as características geográficas da aldeia, a sua história, os apontamentos de arquitectura popular dignos de registo, a igreja onde se baptizou tanta gente, os túmulos dos antepassados, a casa onde teria vivido o avô de Carlos, as ruas, o granito telúrico que sustenta os espaços habitacionais,.... tentando resgatar a vivência rural autentica, ilustrando as imagens que certamente passarão a habitar nas suas memórias.
Visitamos a simpática D. Celina e Osvaldo, familiares de Carlos, que mais uma vez nos receberam, servindo-nos os petiscos característicos de Trás-os-Montes, e partilhando as suas memórias com todos os presentes.
A sua casa parece um verdadeiro museu de objectos que ilustram diversas décadas de existência e que para mim é delicioso ter o prazer de observar, pois transportam-me para a minha infância.
Abriram-se de novo os álbuns de fotografias – o mesmo se tinha verificado quando da visita de Eduardo uns meses atrás.
Eu embevecida observei-os ao longo desses momentos irrepetíveis, dando-lhes espaço para conversarem e organizarem as redes de afectos. Registei esses momentos em dezenas de fotografias, que me ajudarão a recordar esses momentos daqui a uns anos.
A noite aproximava-se, regressamos a Vila Real para encontrar Ricardo. Mais um encontro numa casa já sem memórias mas cheia de conforto e beleza. Uma vez mais se brindou com vinho do Porto, antes do jantar e das despedidas.
Gostei de todos. Espero ter contribuído para a reconstrução e reforço das vossas raízes que afinal são a identidade de cada um.
Eu embevecida observei-os ao longo desses momentos irrepetíveis, dando-lhes espaço para conversarem e organizarem as redes de afectos. Registei esses momentos em dezenas de fotografias, que me ajudarão a recordar esses momentos daqui a uns anos.
A noite aproximava-se, regressamos a Vila Real para encontrar Ricardo. Mais um encontro numa casa já sem memórias mas cheia de conforto e beleza. Uma vez mais se brindou com vinho do Porto, antes do jantar e das despedidas.
Gostei de todos. Espero ter contribuído para a reconstrução e reforço das vossas raízes que afinal são a identidade de cada um.
Espero voltar a vê-los.
Beijo grande
Beijo grande
Anabela Quelhas
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
O auto-retrato
Numa sala de jantar organizada segundo a tradição, onde tudo deveria estar no sitio certo, reinava o silêncio modorrento de uma tarde soalheira, matizada pelos tons quentes da decoração, mistura cromática queirosiana, feita de cortinas e tapetes, com os raios de luz projectados através das janelas que davam para o jardim da entrada.
Eu, de franja, duas trancinhas, e de soquetes, pela mão do meu pai, aguardávamos o senhor doutor.
Aguardávamos em silêncio, pois estávamos numa casa de saúde, onde o barulho não era permitido, e todos caminhavam com pés de veludo. O silêncio era enriquecido pela localização dessa grande casa, mistura de casa de quinta e clínica, na periferia da cidade de Vila Real do inicio da década de 60. O barulho urbano mais persistente que eventualmente chegava até lá, seria resultante do motor de algum carro de aluguer, conhecido como carro de praça, que transportando alguém carente de cuidados médicos, percorria o estreito caminho de acesso e finalmente estacionava no jardim, dando seguimento à sinfonia do silêncio reinante, que se estendia até ao rio Corgo.
Ouvia-se o nosso respirar recortado de forma regular pelo pêndulo obediente do relógio de sala. O tic, tac, tic, tac, tic... ia embalando a minha consciência, desconfigurando o tempo, deformando a noção dos minutos que passavam, mas oferecendo-me um grande aconchego que perdurou até hoje na minha memória.
Antes de conhecer o Dr. Otílio, foi-me apresentado o seu auto-retrato, localizado numa das paredes dessa sala, entre aparadores e vitrines. Com três anos de idade, achei o auto-retrato, quase à escala natural, uma pintura gigante. A figura do médico, de bata branca, acompanhada pelos inseparáveis, bigode e cabeleira indomáveis, era maior do que todas as gravuras que eu tinha conhecido durante a minha curta existência. Aproximei-me, pus a minha mão de petiza, admirei cada pormenor. Achei o doutor simpático, mas escondi a minha chupeta cor-de-rosa, como medida de precaução - diziam-me que os senhores de bigode não gostavam de chupetas, na esperança de eu ir largando esse vício infantil. Continuei a observar a tela, as pinceladas, as texturas, .... mas eu tinha que olhar para cima, e não chegava com a mão ao seu rosto.
O meu pai pegou-me ao colo.
Dei-lhe a chupeta para guardar no bolso, pois achava que seria mais seguro, ser o meu pai a guardar tão preciosa dependência, já que ao colo estaria ao nível dos bigodes do doutor - não fosse acontecer alguma surpresa com esse pedaço de parede que tinha bigodes e que era tão semelhante à realidade.
Tic, tac,... tic, tac,...tic,...
Eu, de franja, duas trancinhas, e de soquetes, pela mão do meu pai, aguardávamos o senhor doutor.
Aguardávamos em silêncio, pois estávamos numa casa de saúde, onde o barulho não era permitido, e todos caminhavam com pés de veludo. O silêncio era enriquecido pela localização dessa grande casa, mistura de casa de quinta e clínica, na periferia da cidade de Vila Real do inicio da década de 60. O barulho urbano mais persistente que eventualmente chegava até lá, seria resultante do motor de algum carro de aluguer, conhecido como carro de praça, que transportando alguém carente de cuidados médicos, percorria o estreito caminho de acesso e finalmente estacionava no jardim, dando seguimento à sinfonia do silêncio reinante, que se estendia até ao rio Corgo.
Ouvia-se o nosso respirar recortado de forma regular pelo pêndulo obediente do relógio de sala. O tic, tac, tic, tac, tic... ia embalando a minha consciência, desconfigurando o tempo, deformando a noção dos minutos que passavam, mas oferecendo-me um grande aconchego que perdurou até hoje na minha memória.
Antes de conhecer o Dr. Otílio, foi-me apresentado o seu auto-retrato, localizado numa das paredes dessa sala, entre aparadores e vitrines. Com três anos de idade, achei o auto-retrato, quase à escala natural, uma pintura gigante. A figura do médico, de bata branca, acompanhada pelos inseparáveis, bigode e cabeleira indomáveis, era maior do que todas as gravuras que eu tinha conhecido durante a minha curta existência. Aproximei-me, pus a minha mão de petiza, admirei cada pormenor. Achei o doutor simpático, mas escondi a minha chupeta cor-de-rosa, como medida de precaução - diziam-me que os senhores de bigode não gostavam de chupetas, na esperança de eu ir largando esse vício infantil. Continuei a observar a tela, as pinceladas, as texturas, .... mas eu tinha que olhar para cima, e não chegava com a mão ao seu rosto.
O meu pai pegou-me ao colo.
Dei-lhe a chupeta para guardar no bolso, pois achava que seria mais seguro, ser o meu pai a guardar tão preciosa dependência, já que ao colo estaria ao nível dos bigodes do doutor - não fosse acontecer alguma surpresa com esse pedaço de parede que tinha bigodes e que era tão semelhante à realidade.
Tic, tac,... tic, tac,...tic,...
- Não mexas no retrato! O senhor doutor foi quem pintou o seu próprio retrato, disse o meu pai. Ele pinta muito bem, podes olhar, mas não deves por as mãos.
- Mas ele é médico, trata os dói-dóis!? surpreendi-me, não conseguindo conciliar no meu raciocínio infantil, estetoscópios, pincéis e tintas. A bata branca deveria útil para alguma coisa - eu via as minhas irmãs a usar bata no colégio, mas isso seria uns meses mais tarde. Porque que é que ele usaria a bata branca? Como é que ele pintava e olhava para ele mesmo? Ignorava os truques dos adultos na reflexão das imagens de um espelho. O meu pensamento tinha dificuldade em gerir toda esta informação com a preguiça e sonolência inconscientemente resultante da combinação infalível do calor, o compasso do tempo emitido pelo relógio de sala, e o colo confortável do meu pai.
Talvez tenha adormecido, ou a memória engoliu o tempo e as imagens da restante espera, misturando-os com outras esperas na mesma sala, ocorridas noutros dias e com outros propósitos. Não sei...
- O Otílio já vem aí? Então, pequenita queres um rebuçado? - perguntava-me uma simpática senhora de cabelo armado e bem penteado, que sorria para mim, e que tinha ido avisá-lo da nossa presença.
- Não obrigado, ela não quer. – agradeceu o meu pai.
- Quero, quero pois! - opús eu, manifestando uma total ausência de cerimónia perante estes familiares que acabava de conhecer, deixando o meu pai desarmado, perante essa desobediência descarada.
Passaram-me os rebuçados.
- Agradece. Diz: obrigada prima Estela. – ensinou-me o meu pai.
Entretanto uma figura quase silenciosa assomou à ombreira da porta de mãos cruzadas atrás das costas. Os meus olhos curiosos fixaram-se imediatamente nos seus bigodes. Sob estes emergia um sorriso afável, franco e quase do tamanho do mundo. Os seus cabelos eram revoltos mas belos.
- Mas ele é médico, trata os dói-dóis!? surpreendi-me, não conseguindo conciliar no meu raciocínio infantil, estetoscópios, pincéis e tintas. A bata branca deveria útil para alguma coisa - eu via as minhas irmãs a usar bata no colégio, mas isso seria uns meses mais tarde. Porque que é que ele usaria a bata branca? Como é que ele pintava e olhava para ele mesmo? Ignorava os truques dos adultos na reflexão das imagens de um espelho. O meu pensamento tinha dificuldade em gerir toda esta informação com a preguiça e sonolência inconscientemente resultante da combinação infalível do calor, o compasso do tempo emitido pelo relógio de sala, e o colo confortável do meu pai.
Talvez tenha adormecido, ou a memória engoliu o tempo e as imagens da restante espera, misturando-os com outras esperas na mesma sala, ocorridas noutros dias e com outros propósitos. Não sei...
- O Otílio já vem aí? Então, pequenita queres um rebuçado? - perguntava-me uma simpática senhora de cabelo armado e bem penteado, que sorria para mim, e que tinha ido avisá-lo da nossa presença.
- Não obrigado, ela não quer. – agradeceu o meu pai.
- Quero, quero pois! - opús eu, manifestando uma total ausência de cerimónia perante estes familiares que acabava de conhecer, deixando o meu pai desarmado, perante essa desobediência descarada.
Passaram-me os rebuçados.
- Agradece. Diz: obrigada prima Estela. – ensinou-me o meu pai.
Entretanto uma figura quase silenciosa assomou à ombreira da porta de mãos cruzadas atrás das costas. Os meus olhos curiosos fixaram-se imediatamente nos seus bigodes. Sob estes emergia um sorriso afável, franco e quase do tamanho do mundo. Os seus cabelos eram revoltos mas belos.
- Como vais Jacinto?
Abraçaram-se os dois, num abraço de reencontro de dois continentes, feito de algumas cumplicidades, que se repetiu muitas outras vezes, encerrando histórias antigas, vivências comuns, ideais de liberdade partilhados e outros assuntos, nessa época, vedados ao mundo das crianças.
(...)
In ”Ensaios de escrita: um projecto sempre adiado”, Anabela Quelhas
domingo, 13 de setembro de 2009
Homenagem a Dr. Otílio Figueiredo
Dr Otílo Figueiredo vai ser homenageado dia 17 de Setembro de 2009 em Vila Real - Rua da Misericórdia e Grémio Literário.
Otílio de Carvalho [Dr.]- (19.Ago.1909-05.Set.1988).
Médico (lic. 07.Nov.1935) estilo João Semana, escritor, pintor, músico. No final da vida (a partir de Nov.1984) tornou-se editor-livreiro.
Cidadão exemplar e interveniente, e pessoa muito estimada, tendo desenvolvido várias campanhas de promoção cultural e educação sanitária do povo, em Justes, onde casou e exerceu medicina durante algum tempo.
Grande opositor do Estado Novo, foi demitido do cargo de médico municipal em 08.Jun.1949, por motivos políticos.
Na juventude pertenceu ao Grupo de Adueiros nº 24, de inspiração republicana, tendo sido nomeado adail.
Em Mar.1929 publica, com letra de Santos Carneiro, o tango “Quem te disse?” Fundou e dirigiu a Casa de Saúde de Vila Real, mais tarde designada Clínica do Prof. Doutor Bissaya Barreto.
Obra literária principal: O ABC das mães (divulgação científica); Os cem anos da Avó Ricardina; Ressuscitemos os cravos vermelhos; O Cabo Mingas; e A praga dos gafanhotos (romances); Gente Simples; Canhenho dum Médico (1ª parte) e Canhenho dum Médico (2ª parte) - Histórias deste mundo e do outro (contos); Era uma vez!... (literatura infantil); Interlúdio (odes); Pórtico [Vila Real]; Homenagem ao Marechal Costa Gomes (opúsculos). Bibl.: Ficha nº 18-A do Ciclo História ao Café.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Casa da família Guerra
Esta casa talvez tenha sido a habitação que alojou mais pessoas na década de 70, em consequência da descolonização de Angola. Em 1975 viviam aqui cerca de 19 pessoas. Hoje está vazia.
sábado, 5 de setembro de 2009
A TOSCA
"A Tosca"
Peça de teatro apresentada em 1952 (aprox) por actores amadores nascidos em Justes, que faziam do teatro a ocupação de alguns dos seus tempos livres.
A Tosca é inspirada na obra de Victorien Sardou, escrita especialmente para a mundialmente famosa Sarah Bernard Bernhardt e representada por esta em 1895 em Florença, levando o compositor Giacomo Puccini a musicá-la.
A Tosca é um exemplo perfeito da habilidade de Sardou em construir uma peça de alta teatralidade de grande efeito dramático.
A Tosca é um exemplo perfeito da habilidade de Sardou em construir uma peça de alta teatralidade de grande efeito dramático.
Actores:
Alvim Monteiro
Fernandina Correia
Gilda Torres
Manuel Rodrigues
....( a completar)
Ensaiadores:
Manuel Conde e Fernando Carvalho
................................................
..................................
Victorien Sardou (Paris, 5 de Setembro de 1831 - Paris,8 de Novembro de 1908), foi um escritor dramático francês, muito conhecido pelas suas comédias, boa parte delas traduzidas para português, constituindo parte frequente do reportório do teatro amador.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
VIAGEM NO TEMPO
(imagem do jornal O Jerónimo de 2003)
clique para ampliar
Que aprecio há muitos anos a obra da pintora transmontana Graça Morais já quase toda a gente percebeu. Infelizmente para nós, Graça Morais não nasceu em Justes,... nasceu perto e representa como ninguém a gente transmontana e o Reino Maravilhoso (Miguel Torga), que a inspira e que sem dúvida marcou a sua pintura, e que ela sabe dignificar brilhantemente.
Graça Morais nasceu no Vieiro da Terra Quente, no entanto olhando as suas telas, muitas delas poderiam relacionar-se com também com Justes e é por isso que hoje lhe dedico este post.
Há uns anos atrás, tendo eu que fazer um agradecimento público a esta grande senhora, produzi o texto que transcrevo a seguir (perdoem-me os verdadeiros escritores, pois escrever não sei, e sei que com jeito não se vai lá, eu sou mas é, uma grande atrevida), ilustrado com algumas das suas pinturas.
Ao escrever o texto pensei em Justes.
"Cada vez que observo a pintura de Graça Morais, redescubro imagens, aromas, sons e outras sensações que há muito andavam esquecidas num canto do meu subconsciente, onde se arruma parte da minha infância vivida numa aldeia trasmontana.
Surpreendo-me emocionada...
... há quanto tempo não via o pescoço dobrado de uma galinha, preparada para o sacrifício que a transformará em canja ou arroz de cabidela; todo o ritual delicado e feminino que contrasta com a violência do gesto.
... a matança do porco que eu não gostava de presenciar, mas que recordo através de sons, localizados logo pela manhã, matizados de um cheiro de palha, pêlo e pele queimados, contrastando com o odor do leitãozinho, que tinha visto acabado de parir – a violência amenizada pela necessidade da sobrevivência dos homens – explicação dada pela mãe.
... as esculturas de cera colocadas na igreja, as cenas pintadas de ex-votos, representando momentos de aflição, penduradas à volta do altar barroco. Eu olhando intrigada, vestida de anjinho no final das procissões; o cheiro forte de incenso emanado de um turíbulo oscilante que atravessava o altar-mor, hipnotizando o meu olhar infantil, confundindo as minhas convicções de menina, extremadas entre o Bem e o Mal; em dia de festa, a missa cantada em latim, coada por feixes de luz e massas de penumbra, num colorido celestial e... o cordeiro assado à espera para um almoço tardio.
... a ida ao cemitério, na última tarde de Outubro, pela mão da minha avó (viúva, matriarca da família), quer chovesse ou fizesse sol; a mãe carreagando crisântemos em braçado; as viúvas com enxada na mão construindo com terra, volumes paralelipipédicos, carinhosamente geométricos, que de seguida eu e as outras crianças enfeitávamos com cruzinhas traçadas com pétalas e pequenas flores.
... os caretos? Espreitava-os apenas através dos vidros das janelas fechadas!
... as mulheres sem idade, sentadas ao soalheiro, com as travessas a segurar o cabelo, modelado na continuação das rugas profundas do rosto sofrido, a fazer meia numa mágica de 5 agulhas e lã, fiada e traçada na parafusa, ou então a queimar ramos de oliveira nos dias de trovão... a senhora Marquinhas, avó Felisbela, a tia Rosália... “Sta Bárbara bendita, no céu está escrita, com papel e água benta...” (oração).
... o moirão (trasfogueiro) apoiado numa grande laje de granito, com lenha a arder, os potes a fumegar apaladados com o unto ou o azeite da almotolia e a broa acabada de cozer; as castanhas a secar suspensas no caniço.
... os perfumes da terra... as bonecas de pano... as minhas irmãs...
... as saudades do meu pai, pontualmente ausente, emolduradas no olhar triste do seu cão, Fiel!
Obrigada, Graça! "
"Cada vez que observo a pintura de Graça Morais, redescubro imagens, aromas, sons e outras sensações que há muito andavam esquecidas num canto do meu subconsciente, onde se arruma parte da minha infância vivida numa aldeia trasmontana.
Surpreendo-me emocionada...
... há quanto tempo não via o pescoço dobrado de uma galinha, preparada para o sacrifício que a transformará em canja ou arroz de cabidela; todo o ritual delicado e feminino que contrasta com a violência do gesto.
... a matança do porco que eu não gostava de presenciar, mas que recordo através de sons, localizados logo pela manhã, matizados de um cheiro de palha, pêlo e pele queimados, contrastando com o odor do leitãozinho, que tinha visto acabado de parir – a violência amenizada pela necessidade da sobrevivência dos homens – explicação dada pela mãe.
... as esculturas de cera colocadas na igreja, as cenas pintadas de ex-votos, representando momentos de aflição, penduradas à volta do altar barroco. Eu olhando intrigada, vestida de anjinho no final das procissões; o cheiro forte de incenso emanado de um turíbulo oscilante que atravessava o altar-mor, hipnotizando o meu olhar infantil, confundindo as minhas convicções de menina, extremadas entre o Bem e o Mal; em dia de festa, a missa cantada em latim, coada por feixes de luz e massas de penumbra, num colorido celestial e... o cordeiro assado à espera para um almoço tardio.
... a ida ao cemitério, na última tarde de Outubro, pela mão da minha avó (viúva, matriarca da família), quer chovesse ou fizesse sol; a mãe carreagando crisântemos em braçado; as viúvas com enxada na mão construindo com terra, volumes paralelipipédicos, carinhosamente geométricos, que de seguida eu e as outras crianças enfeitávamos com cruzinhas traçadas com pétalas e pequenas flores.
... os caretos? Espreitava-os apenas através dos vidros das janelas fechadas!
... as mulheres sem idade, sentadas ao soalheiro, com as travessas a segurar o cabelo, modelado na continuação das rugas profundas do rosto sofrido, a fazer meia numa mágica de 5 agulhas e lã, fiada e traçada na parafusa, ou então a queimar ramos de oliveira nos dias de trovão... a senhora Marquinhas, avó Felisbela, a tia Rosália... “Sta Bárbara bendita, no céu está escrita, com papel e água benta...” (oração).
... o moirão (trasfogueiro) apoiado numa grande laje de granito, com lenha a arder, os potes a fumegar apaladados com o unto ou o azeite da almotolia e a broa acabada de cozer; as castanhas a secar suspensas no caniço.
... os perfumes da terra... as bonecas de pano... as minhas irmãs...
... as saudades do meu pai, pontualmente ausente, emolduradas no olhar triste do seu cão, Fiel!
Obrigada, Graça! "
Visita obrigatória a:
terça-feira, 11 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Casal Joaquim Alves Forcado e Ana Maria Palheiros
sexta-feira, 31 de julho de 2009
OS RAMOS DE JUSTES
Em várias localidades existe como tradição a festa do ramo.
Normalmente são tradições da cultura pagã ocidental (ver paganismo), que resistiram ao longo dos séculos, interligadas com a natureza, com os seus ciclos de produção e renovação e respectivas simbologias.
Normalmente são tradições da cultura pagã ocidental (ver paganismo), que resistiram ao longo dos séculos, interligadas com a natureza, com os seus ciclos de produção e renovação e respectivas simbologias.
Uns veneram o pão ou os seus derivados, outros veneram a carne.
Ambos são símbolos de abundância. Prestar culto ao pão é festejar o trabalho de um ano inteiro, propiciar os bons augúrios, ofertando aos seres superiores, deuses ou santos, os mesmos frutos da terra que ali se consomem religiosamente e que se desejam multiplicados por muitos para o ano inteiro. Havendo abundância de pão haverá certamente abundância da carne.
Estas manifestações da cultura popular ocorrem em diversas datas, consoante a localidade.
No solstício de Inverno, localizado muito próximo do Natal e do ano novo, é uma época que combina bem com a simbologia da renovação da natureza.
No solstício do verão está a natureza na sua pujança máxima, quando os dias são maiores, e se festeja o inicio das colheitas e a fertilidade dos campos.
Ambos são símbolos de abundância. Prestar culto ao pão é festejar o trabalho de um ano inteiro, propiciar os bons augúrios, ofertando aos seres superiores, deuses ou santos, os mesmos frutos da terra que ali se consomem religiosamente e que se desejam multiplicados por muitos para o ano inteiro. Havendo abundância de pão haverá certamente abundância da carne.
Estas manifestações da cultura popular ocorrem em diversas datas, consoante a localidade.
No solstício de Inverno, localizado muito próximo do Natal e do ano novo, é uma época que combina bem com a simbologia da renovação da natureza.
No solstício do verão está a natureza na sua pujança máxima, quando os dias são maiores, e se festeja o inicio das colheitas e a fertilidade dos campos.
Em Justes é o solstício de verão que é festejado, mas integrado no calendário religioso, e o ramo aparece com uma simbologia que é vivida mas desconhecida dos seus habitantes, pois o verdadeiro significado perdeu-se nos costumes dos antepassados.
Até onde nos leva a memória, o ramo construía-se na festa de Sta Maria Madalena e servia como testemunho, sendo ofertado aos mordomos da festa do ano seguinte. No entanto a veneração é dedicada claramente ao pão, transformado delicadamente em folhas através de doçaria fina, gostosas rodelas cobertas de açúcar, denominadas de cavacas. O significado é certamente de abundância.
A estrutura do ramo pode ser em madeira ou metal. A sua forma de roca, deverá permitir que seja transportado e onde seja possível suspender a doçaria por anéis. A estrutura é guardada de ano para ano. A doçaria é feita segundo a receita das cavacas, com cobertura de açúcar branco, por vezes enfeitadas apenas com baixo relevo, traçado com o rabo de uma colher sobre o açúcar, outras vezes salpicadas com pérolas comestíveis prateadas.
A suspensão obedece a uma regra para que o efeito final fique perfeito.
As cavacas são furadas com agulha e linha e suspensas na armação da roca no sentido da base para o topo, numa lógica regular, que resultem sobrepostas e ordenadas, e que revistam totalmente o exterior da roca.
Da armação soltam-se pequenos harmónios coloridos, resultantes de um origami transmontano e colorido que contrastam com o branco das cavacas.
Fecham no topo com flores, um pequeno arranjo de frutas, preferencialmente um bonito cacho de uvas, e um pão-de-ló. Este último pormenor é o fechar do círculo divino, o pão e o vinho.
O ramo é executado no dia anterior à festa.
A saída dos ramos foi interrompida durante anos (anos 60 e 70). Em 1975 renovou-se a tradição. As cavacas foram confeccionadas na casa onde pela ultima vez tinha ficado o ramo antigo(casa de Joaquim Correia), os mais velhos orientaram e quem teve a iniciativa foram alguns jovens da época: Albertino Correia, Glória Correia, Maria Augusta Correia e Maria Ermelinda Quelhas. Eu dei apenas uma pequena ajuda.
Fecham no topo com flores, um pequeno arranjo de frutas, preferencialmente um bonito cacho de uvas, e um pão-de-ló. Este último pormenor é o fechar do círculo divino, o pão e o vinho.
O ramo é executado no dia anterior à festa.
Entrar ou não na igreja é uma questão que ainda hoje gera atrito entre o cristão e o pagão.
O ramo não vai na procissão.
O ramo é resguardado do desfile religioso, de andores anjinhos, pálio e promessas, de ares ciscunspectos sublinhados por silêncios, por sofrimento e por alegrias contidas.
Depois, no final da procissão e da conclusão dos rituias de encerramento da igreja, o ramo sai à rua, em festa profana, percorrendo toda a aldeia ao ritmo da musica tocada pela banda, e são transportados por rapazes e raparigas que dançam e se divertem festejando e renovando o ritual pagão; depois é entregue aos mordomos do ano seguinte.
A tradição pagã é colada à festa religiosa, com maior ou menor adaptação. O pormenor do vinho, simbolicamente representado, é uma nítida combinação com o sangue de Cristo para dar alguma legalidade ao ritual.
Os naturais de Justes prezam bastante este ritual.Depois, no final da procissão e da conclusão dos rituias de encerramento da igreja, o ramo sai à rua, em festa profana, percorrendo toda a aldeia ao ritmo da musica tocada pela banda, e são transportados por rapazes e raparigas que dançam e se divertem festejando e renovando o ritual pagão; depois é entregue aos mordomos do ano seguinte.
A tradição pagã é colada à festa religiosa, com maior ou menor adaptação. O pormenor do vinho, simbolicamente representado, é uma nítida combinação com o sangue de Cristo para dar alguma legalidade ao ritual.
A saída dos ramos foi interrompida durante anos (anos 60 e 70). Em 1975 renovou-se a tradição. As cavacas foram confeccionadas na casa onde pela ultima vez tinha ficado o ramo antigo(casa de Joaquim Correia), os mais velhos orientaram e quem teve a iniciativa foram alguns jovens da época: Albertino Correia, Glória Correia, Maria Augusta Correia e Maria Ermelinda Quelhas. Eu dei apenas uma pequena ajuda.
Fotos desse ano onde estão? Façam-nas chegar aqui ao blog se faz favor.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
O paganismo
"Em todas as Eras tem havido mulheres e homens cujas almas têm sido profundamente tocadas pela Natureza, pessoas para as quais as Estrelas falam do seu gracioso silêncio, para as quais a Lua não é só um corpo celeste, para as quais as plantas e os densos bosques são como as catedrais da alma. Pessoas que amam e respeitam a Natureza, tirando partido dela sem a destruir, pessoas que acreditam que homens e mulheres têm os mesmos direitos e se respeitam. Estes são os Pagãos."
No passado, quando as pessoas viviam em conjunto com a natureza, o passar das estações e os ciclos lunares tinham um profundo impacto em cerimónias religiosas. A lua era vista como um símbolo divino, por isso as cerimónias de adoração, magias e celebrações eram feitas sob sua luz. A chegada do inverno, as primeiras actividades da primavera, o quente verão e a entrada do outono também eram marcados por rituais.
Esses rituais tem por objectivo sincronizar a nossa energia com as estações do ano, ou seja, com os ciclos do planeta Terra e do Universo. Quatro desses dias são determinados pelos solstícios e equinócios, que são o início astronómico das estações do ano. Muitas datas das comemorações pagãs coincidem com as das cristãs. Entretanto, o paganismo é muito anterior ao cristianismo; ou seja, foram os cristãos que integraram elementos da cultura pagã e adequaram-nos às suas tradições, depois perseguindo e condenando os praticantes de rituais pagãos, exterminando, quase que completamente, sua cultura.
A igreja apropriou-se de certos elementos da cultura pagã para facilitar a penetração da religião cristã em algumas sociedades fechadas. Foi apenas uma questão de estratégia de aproximação, resultando no passado num sincretismo religioso.
Esses rituais tem por objectivo sincronizar a nossa energia com as estações do ano, ou seja, com os ciclos do planeta Terra e do Universo. Quatro desses dias são determinados pelos solstícios e equinócios, que são o início astronómico das estações do ano. Muitas datas das comemorações pagãs coincidem com as das cristãs. Entretanto, o paganismo é muito anterior ao cristianismo; ou seja, foram os cristãos que integraram elementos da cultura pagã e adequaram-nos às suas tradições, depois perseguindo e condenando os praticantes de rituais pagãos, exterminando, quase que completamente, sua cultura.
A igreja apropriou-se de certos elementos da cultura pagã para facilitar a penetração da religião cristã em algumas sociedades fechadas. Foi apenas uma questão de estratégia de aproximação, resultando no passado num sincretismo religioso.
"A Partir do século IV, o cristianismo tornou-se religião oficial em Roma. Apesar disto, muitos continuaram fiéis ao seus Deuses e Deusas. Os habitantes do campo eram chamados “paganus” e por não terem aderido ao cristianismo passaram a serem perseguidos e forçados a conversão. A partir desta época todo aquele que não fosse cristão era considerado “pagão”. A transição da Antiga Religião Pagã para a Religião Cristã, aconteceu durante um longo período. Nenhum pagão se tornou cristão do dia para a noite. Os aristocratas foram menos resistentes, porque percebiam o poder da nova crença, mas os habitantes dos campos (paganus), recusaram-se a aceitar a nova fé. Os sacerdotes do cristianismo passaram a adaptar as festas pagãs. Alguns templos pagãos, pouco a pouco, foram usados pela Igreja. A Igreja Cristã foi-se tornando uma poderosa instituição. O que ela não podia destruir da Antiga Religião ela adaptava, transformando crenças pagãs em cristãs."
Exemplo:
1 - O DIA do SOL = SUNDAY = DOMINGO = DIA PAGÃO.
2- DIA 25 de DEZEMBRO = NATAL = FESTA PAGÃ.
3- ÁRVORE DE NATAL = PRÁTICA PAGÃ.
4- IMAGENS DE ESCULTURA = PRÁTICA PAGÃ
5- TRINDADE= PRÁTICA PAGÃ
6- IMORTALIDADE DA ALMA = CRENÇA PAGÃ
7- ADORAÇÃO A DEUSA MÃE = PRÁTICA PAGÃ
8- USO DE CRUZES = PRÁTICA PAGÃ
9- USO DE PINHAS = PRÁTICA PAGÃ
10- OBELISCOS = PRÁTICA PAGÃ
terça-feira, 28 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
Conheci-os a namorar
Manuel Rodrigues e Rosália Almeida
Para mim, afectuosamente são, o Manel Careca e a tia Zá.
Para mim, afectuosamente são, o Manel Careca e a tia Zá.
Ele, a quem a alcunha nunca fez qualquer tipo de mossa, é um homem trabalhador, honesto e grande contador de estórias.
Algumas estórias nasceram da observação de situações, resultantes de muitos anos de estrada, outras talvez reinventadas e apoiadas na sua capacidade de observação acutilante e fruto da personalidade curiosa e engenhosa que possui, sublinhadas por um grande sentido de humor.
É um imitador nato, conseguindo enriquecer as suas estórias com imitações personalizadas, partilhadas apenas nos círculos familiares mais próximos, de que tenho o previlégio de pertencer. Tem a capacidade de caricaturar personagens e situações evidenciando sempre as vertentes ridículas de certas situações tornando-as hilariantes e inesquecíveis.
Imita a voz, a postura e o movimento, não deixando duvidas sobre a sua fonte de inspiração, seja homem ou seja mulher.
Ela, a mulher que talvez tenha curado mais cabeças rachadas e joelhos esmurrados do termo de Justes. Quem nunca passou pelos seus primeiros socorros radicais? Para as crianças e medricas, e quando o ferimento não se apresentava com gravidade, a água oxigenada era aplicada com mestria; para os mais valentes e sempre que se justificava, o alcóol puro, fazia qualquer acidentado realizar viagens espaciais rodeado por dezenas de estrelinhas a rodar. Quem disse que as estrelas são astros sem movimento enganou-se redondamente.
Quanto mais ardesse, melhor. Era sinal de cura - assim ia conformando os acidentados.
Claro que isto era no tempo em que o betadine não existia.
Lembro-me de olhar com olhos lacrimejantes e esbugalhados para uns centímetros cúbicos de espuma, que expulsavam diversas areias de minha coxa direita, num belo dia, aos 6 anos de idade, quando resolvi experimentar, a maciez de uma lageta de granito, em plano inclinado, ao fundo da rua da Pereira. Apesar da tenra didade fui presenteada pelo tratamento dois em um, álcool puro + água oxigenada q.b., que me fez entrar definitivamente na era espacial.
Não pensem que a tia Zá se trata de uma pessoa insensivel. Não, pelo contrário, trata-se de uma pessoa sensível, bondosa, de lágrima fácil, solidária, divertida, prestável, com carradas de paciência e que, com muita doçura, lá ia ensopando os ferimentos de uns e de outros com o líquido ardente.
Não pensem que a tia Zá se trata de uma pessoa insensivel. Não, pelo contrário, trata-se de uma pessoa sensível, bondosa, de lágrima fácil, solidária, divertida, prestável, com carradas de paciência e que, com muita doçura, lá ia ensopando os ferimentos de uns e de outros com o líquido ardente.
Conheci-os a namorar e troquei-lhes alianças.
domingo, 19 de julho de 2009
O sagrado e o profano
O sagrado e o profano saíram hoje às ruas de Justes, a propósito da festa em homenagem a Sta Maria Madalena.
Primeiro saiu o sagrado sob a forma de procissão: Bombos, estandartes, andor, figurantes religiosos, padre, palio e banda de música.
Depois saiu o profano: 2 ramos, mordomos actuais e banda de música; e por fim: 2 ramos (os mesmos), futuros mordomos e bombos em reboada.
Deixo-vos aqui o registo, voltarei brevemente com as explicações.
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