terça-feira, 30 de junho de 2009

Guerrilheiro Sentimental


Guerrilheiro Sentimental - Estórias de Exílio
Autor: Figueiredo, Eurico
Editora: Campo das Letras




Eurico Figueiredo, o conhecido professor de Psiquiatria, estreia-se na ficção com o livro Guerrilheiro sentimental. Estórias de exílio, uma colectânea de contos girando em torno do tema do exílio, da emigração, da oposição ao regime fascista, do sub-mundo das prisões e da polícia política.O livro foi já apresentado em Lisboa, na Fábrica do Braço de Prata, em 21 de Junho, e em Vila Real, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira, no dia 25 de Junho, numa sessão organizada pela editora Campo das Letras, que publicou a obra. Em Vila Real, apresentaram a obra o escritor A. M. Pires Cabral e o sociólogo António Barreto. A 30 de Junho, foi também apresentado no Porto, na Biblioteca da Fundação de Serralves.Eurico Figueiredo é filho do médico-escritor vila-realense Otílio Figueiredo, falecido em 1988, com vasta obra publicada.

(Grémio Literário Vila Realense 2008)
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Por António Barreto
"Com saudades do exílio”! Foi com esta dedicatória que o Eurico me ofereceu um exemplar do seu livro. Devo dizer, fiquei minutos parado a olhar para esta frase. Parece absurdo. Ou mentira. Ou romantismo barato. Não é uma coisa, nem outra, nem aqueloutra. É muito sério. Também já me aconteceu ter saudades do exílio!
Esta frase obriga-nos a duas reflexões. A primeira: não estamos bem aqui; ou não estamos sempre bem; ou não estamos tão bem quanto imaginávamos há trinta anos. É, em parte, natural. Nunca estamos tão bem quanto gostaríamos. Mas também quer dizer que o nosso país não está bem. Depois de grandes mudanças, de desenvolvimentos notáveis, de melhoramentos indiscutíveis, vimos descobrindo, há dez ou quinze anos, que há esgotamento de energias, que persistem males na sociedade difíceis de resolver, como a demagogia, a corrupção, ou, simplesmente, noutro registo, o atraso e a ignorância.
A segunda reflexão: os tempos de exílio, apesar das saudades, apesar das dificuldades, foram bons. Talvez não para toda a gente. Mas, para muitos, foram anos bons. Para mim, foram. Para o Eurico, foram. É verdade que nos sentíamos sempre diminuídos na condição de estrangeiro ou imigrante, nunca éramos realmente iguais em tudo a todos. Mas aprendemos, vimos, falámos e pensámos como nunca o teríamos feito em Portugal. Se eu voltasse atrás, sei hoje que poderia alterar ou trocar muito ou algo do que vivi. Mas o exílio, não! A ponto de ainda hoje, nos piores momentos da nossa vida colectiva, eu pensar e dizer que “se fosse mais novo, voltava a partir”! Pergunto-me se o Eurico não pensa a mesma coisa de vez em quando.
(...)

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