segunda-feira, 25 de maio de 2020

Inauguração da luz - 1948

Inauguração da luz 1948. Esq para dir: Amália de Vilar de maçada, Benvinda Palheiros, Rosália Palheiros, Albertina da Mariana, Marcilia Felícia, Ermelinda poço, Áurea poço, Maria do Carmo poço, Maria Isabel poço,?

domingo, 24 de maio de 2020

Amâncio

A antiga mercearia "Amâncio" funcionava no rés-do-chão desta casa, fazendo concorrência ao Manila e ao Vieira.
Ainda conheci a Dona. Júlia e o Sr. Amâncio, proprietários simpáticos... era uma venda pequena, mas não sei porque era aqui que eu comprava amendoins...
Hoje uma casa com outro ar, restaurada, com pedra à vista, não tenho a certeza que tenha respeitado a imagem original. Sempre a conheci, pintada a branco com soco ou rodapé cinzento. Um rústico quanto a mim, aceitável. Beijinhos Alda.

CANASTROS - video

CANASTROS DA REGIÃO DE VILA REAL

sábado, 23 de maio de 2020

ALMINHAS


Alminhas são pequenos locais de devoção popular. Simbolizam as almas que estão no purgatório, esperando por orações para serem purificadas antes de transitarem para o Céu.
Por vezes é uma fonte de rendimento da igreja, porque há quem deixe, para além da oração, algum dinheiro.
Há Alminhas modestas e simples, como estas em Justes, e há outras mais exuberantes. Localizam-se sempre em lugares simbólicos, como cruzamento de caminhos, cumes ou locais que sugerem sacralidade ao olhar do povo, para reforçar o encontro com Deus.
As suas origens perdem-se no tempo, muito mais antigas da religião Cristã. Alguns estudiosos, interligam-nas com os marcos romanos de ordenamento territorial, e também à sua origem pagã pré-romana. Por vezes chamam-lhe oráculos dos Deuses dos caminhos onde os agricultores ou os viajantes vinham pedir orientação ou sorte aos Deuses, pelo cultivo das terras e boa fortuna da sua viagem. Não está provado que sejam resultantes da vontade de assinalar o lugar onde alguém perdeu a vida.
Os pequenos nichos, encastrados em muros, antigamente poderiam acolher uma pequena estátua de um santo ou um santo pintado na pedra, ou numa placa de madeira ou um azulejo, mas a ideia das almas do purgatório acabam por eliminar o culto ao santo
Este exemplar de Justes, já não corresponde ao original, foi aplicada uma grade em ferro forjado retirando-lhe o minimalismo e rusticidade original.
Localização: cruzamento entre a rua da Pereira e Rua Alcides Boal.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Passadiço


Passadiço define-se como passagem estreita que nas casas ou ruas serve para ir de uma para outra atalhando caminho ou espaço de comunicação superior entre dois corpos de um edifício.
         Não se sabe bem a sua origem. Temos vários exemplos na história da arquitectura.

         Em Itália, na cidade de Florença, foi encomendada a Giorgio Vasari pelo Grão-duque Cosimo em 1565, um corredor que possibilitava que a família Médici se movesse livremente pelo centro da cidade, num período em que não contavam com cem por cento do apoio da população.

         Este famoso corredor suspenso une o Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti, dois edifícios de poder em Florença. O Palazzo Vecchio está localizado na Piazza da Signoria, sede do poder político da cidade, enquanto o Palazzo Pitti foi a residência da família Médici. Esta passagem monumental atravessa o rio Arno, na Ponte Vecchio.
         O corredor de Vasari é uma estrutura de 1km, criado por razões práticas e com a função de ligar os escritórios dos Médici com a atual Galeria Uffizi e o Palazzo Pitti, que era a residência da família. Nesta verdadeira inovação arquitetónica lourenzo Medices, em deslocava-se sem sair à rua, num percurso protegido, coberto, onde a sua segurança não fosse ameaçada.
         É este parâmetro denominado segurança que se repete nos passadiços de concepção popular, que surgem com frequência nas judiarias.
         As comunidades fechadas, que praticam rituais condenados pela igreja católica, necessitam deste elemento arquitectónico para preservar a sua privacidade e segurança.
         Em Justes encontramos 4 passadiços que se encontram no mesmo quarteirão e unem casas de familiares. Neste quarteirão é possível circular por todo o lado sem ser visto na rua - Passadiço aberto que unia a habitação do Sr. Maximino Torres à habitação Palheiros Furcado, os quintais destas duas famílias ligam-se às construções da rua de baixo, e aos espaços das famílias Fontes e Guerra, com dois passadiços ainda existentes que com outro passadiço já inexistente, por demolição da construção superior, e que se ligava a outro edifício também dos Palheiros Furcado.
         Estes eram passadiços largos, com aproveitamento habitacional superior, sobradados e apoiados em cachorros das paredes mestras em granito. Na parte superior, a sua função habitacional poderia ser um quarto ou uma sala, já que ampliavam a área habitacional disponível sobreposta ao espaço público. Não era obrigatório ser um corredor, um espaço com características de passagem. Podia ser um espaço de permanência com 2 portas de ligação.
         Assim, os elementos das famílias Torres, Guerra, Fontes, Palheiros e Furcados, circulavam entre eles, discretamente, sem visibilidade da rua, preservando a sua privacidade e a sua vida domestica e comunitária.
         A evolução da vida em dois seculos, certamente apagaram diversos vestígios que nos permitiriam avaliar melhor esta situação especial na aldeia de Justes.
         Seria apenas uma questão de comodidade, de conforto? Sair à rua naquela época, implicava apanhar frio ou calor e sujar os pés nas estrumeiras.
         Seria um truque arquitectonico para resguardar rituais judaicos que se realizavam, juntando as famílias, num tempo de perseguição e de camuflagem das suas raízes?. 
         Os judeus praticaram em segredo a sua religião na Península Ibérica. Aí viveram séculos de prosperidade. Centraram-se em áreas como as finanças, medicina e na expansão da sua cultura durante o domínio muçulmano até 1942, altura em que os Reis Católicos e mais tarde em 1497 o rei de Portugal D. Manuel declararam a sua expulsão da Península. Muitos judeus converteram-se ao catolicismo integrando o grupo dos cristãos novos, porém, alguns deles, fizeram-no apenas aparentemente para se protegerem. O judaísmo era praticado discretamente por trás de muros, entre ruas estreitas, entre sussurros, na obscuridade como sombras.
         A comunidade de Justes será descendente destes cristãos- novos? Fica a dúvida.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

BUCHO RECHEADO


Bucho recheado à moda da família Palheiros Forcado
Esta é uma iguaria muito antiga, que deixou de se confeccionar e  cuja receita quase se perdeu nestes tempos modernos.
Um cozinhado com origem na família Palheiros Forcado, confeccionado apena na época da matança do porco, já que requer sangue fresco. Antigamente não havia frigorífico e os produtos confeccionados com este elemento faziam-se uma vez por ano. O porco só tem um bucho, o que reduz também a sua popularização. O cuidado e a habilidade exigidas na confecção associados às questões referidas, converte-o numa especialidade rara e de gabarito.

Bucho de porco - lavar o bucho com muita água, sal e limão e deixar de molho para o dia seguinte.
Fazer ao lume um combinado com bocadinhos de carne de porco previamente em vinha d’alhos, 2 colheres de azeite, 1 colher de banha de porco e sal.
Colocar num tacho, pão partido aos bocadinhos (pão de Vilar de Maçada), sangue fresco de porco, ovos cozidos partidos aos pedaços, o combinado com calda, referidos atrás e azeitonas descaroçadas e partidas. Envolve-se tudo como uma açorda. Recheia-se o bucho, com cuidado e depois este é cosido com agulha e linha, para ficar fechado.
O bucho recheado transita para o interior de um saco de linho. Aperta-se bem o saco e vai a cozer numa panela com água, durante uma hora. Retira-se com muito cuidado e transfere para um tabuleiro previamente untado com banha de porco e vai ao forno tomar cor e tostar.
Servir com arroz de forno.
Nota, todo o processo de cozedura deve ser feito com imenso cuidado para que o bucho se conserve inteiro.

sábado, 9 de maio de 2020

TAWATA SHOW

 
Esta foto é de Agosto de 1973. É uma raridade e pertence a Abel Garfejo.
Do meio do marasmo campestre, no dia da festa, a comissão de festas presenteou-nos com este grupo musical proveniente de Espanha (Orense? Verin?). A festa ainda era no largo da feira – tão acolhedora!. A aldeia estava cheia de gente, não havia um lugarzinho para estacionar o carro.
As meninas apresentaram-se e de barriga à mostra e o cavalheiro vestindo lilás.
Foi uma festa de arromba e um regalo para os velhotes que não saíram toda a noite da linha da frente, observando as chiquititas..
A música mais cantada foi Y VIVA ESPANHA, sucesso naquele verão cujo original não sei a quem pertence, mas o que tocava na radio era uma versão alemã, não sei se será esta. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=3duPtgBQquU

 TAWATA SHOW

" Sem dúvida, as melhores Festas de sempre. O meu pai, presidente da Comissão de Festas e o Sr. Felícia, secretário, deslocaram-se a Verin onde ouviram este fabuloso grupo madrileno. Os "Tawata Show" eram um outro mundo a expressar-se musicalmente com versões dos êxitos que então faziam furor, como "Y Viva España", de Manolo Escobar ou "Jesus Christ Superstar" de Andrew Lloyd Webber; eram também o anunciar do novo mundo, livre e depreconceituoso, que abril nos traria no ano seguinte. O contrato foi assinado pelo meu pai, na minha presença, numa agencia musical de Orense. Os "Tawata Show" começaram por atuar no intervalo das "comédias" que tradicionalmente antecediam os festejos. O êxito apenas foi comparável à dimensão do choque cultural e à imediata adesão de todos os que assistimos. Rapidamente se espalhou a notícia em Vila Real e arredores. Domingo à noite, Justes transbordava de jovens ávidos desse novo mundo que os "Tawata Show" nos traziam. Era ainda criança mas fixei a imagem daquele vocalista, contorcido no palco, perante um publico em delírio, cantando a versão em língua portuguesa de Jesus Christ Superstar. Um concerto fantástico numas festas extraordinárias." Álvaro Pinto

quarta-feira, 6 de maio de 2020



Uma solução um pouco invulgar na aldeia, crescer em altura para remodelar e tornar habitável para responder à novas exigências habitacionais..
Pontos fortes: não tem persianas, as juntas entre o granito não são pintadas e as janelas não são de aluminio prateado.
Pontos fracos: não respeitaram a escala original.

É UM CASARIO

É UM CASARIO

            É um casario homogéneo na diversidade, parece compacto, voltado para as ruas e que vira as costas aos campos, aos lameiros e às hortas. Parecem esquecidos da mancha urbana, como se não tivessem valor, como se não pertencessem a esta narrativa que se pretende citadina, sem enquadramento… ficam de lado, ficam para trás quietos e silenciosos, deixando-se iludir como falsamente ignorados.
            A teia construída trepa orgânica e serenamente a morfologia do solo até se perder na serra, localizada na linha do horizonte, que a divide a poente com outros lugares. Os planos sobem, por ruas e quelhos até atingir o Santuário, oferecendo-nos panos de parede, ora graníticos, ora alvos pela cal, com muros misturados feitos de pequenas pedras e uma lagartixa inquieta a espreitar de vez em quando. A tonalidade fria do granito das alvenarias, matiza-se com os vermelhos de uma roseira ou de um craveiro pendente, com os azuis de uma glicínia, com os rosados das malvas crescidas em vasos que adornam as pequenas escadas, ou com as campanelas, que anunciam a Primavera. De vez em quando despontam urtigas, hortelã, mentrastos e mercuriais nos cantos abandonados.       
            Dos muros entre as pedras brotam conchilos e musgos de flor delicada. São estes pormenores secundários que bordam a geografia deste lugar silvestre e urbano em simultâneo.
            O maçadoiro, o cruzeiro, a fonte, as alminhas, o chafariz, os passadiços e os canastros, testemunhos de muitas memórias, estão aqui também, silenciosos e intemporais dando-nos a certeza que nos conhecem a nós, aos nossos antepassados e conhecerão quem virá no futuro. 
            Escuta-se o silêncio, cortado pontualmente pelo sino que já não bate as horas, o mugir das vacas ausentes e o zurrar de um burro, que já não existe. Aquele carro de bois ao longe a chiar só de imaginação. Restam as abelhas, indiferentes a tudo, realizando a sua árdua tarefa de polinização. O som do regato corre nas fontes e o cheiro a canela, polvilhada sobre a aletria, solta-se de um postigo qualquer.
            À noite, na ausência da luminosidade solar, Justes veste uma nova imagem, mais misteriosa, mais meditativa, mais imperscrutável, mais opaca, pautada pelos pontos da iluminação pública, cada vez menos presentes e mais esbatidos, devido à perspectiva, pelo brilho dos vidros das janelas e pela presença da Lua de várias fases, que organiza a lavoura e é protagonista de muitas histórias, contadas e recontadas ao borralho das lareiras.
             Nesta aldeia feita de penumbras, de translúcidos, de sombras coadas e recantos escuros, nas várias horas da noite, a Capela de Santa Maria Madalena assume força e beleza, assinalando um centro geográfico descentrado, que vai juntando os retalhos desta aldeia, feitos de terra e de afectos, aqui, e no universo da diáspora.
Anabela Quelhas
Fotografia: Américo José da Silva Correia

Publicado no NVR 6/05/2020