quinta-feira, 21 de maio de 2020

Passadiço


Passadiço define-se como passagem estreita que nas casas ou ruas serve para ir de uma para outra atalhando caminho ou espaço de comunicação superior entre dois corpos de um edifício.
         Não se sabe bem a sua origem. Temos vários exemplos na história da arquitectura.

         Em Itália, na cidade de Florença, foi encomendada a Giorgio Vasari pelo Grão-duque Cosimo em 1565, um corredor que possibilitava que a família Médici se movesse livremente pelo centro da cidade, num período em que não contavam com cem por cento do apoio da população.

         Este famoso corredor suspenso une o Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti, dois edifícios de poder em Florença. O Palazzo Vecchio está localizado na Piazza da Signoria, sede do poder político da cidade, enquanto o Palazzo Pitti foi a residência da família Médici. Esta passagem monumental atravessa o rio Arno, na Ponte Vecchio.
         O corredor de Vasari é uma estrutura de 1km, criado por razões práticas e com a função de ligar os escritórios dos Médici com a atual Galeria Uffizi e o Palazzo Pitti, que era a residência da família. Nesta verdadeira inovação arquitetónica lourenzo Medices, em deslocava-se sem sair à rua, num percurso protegido, coberto, onde a sua segurança não fosse ameaçada.
         É este parâmetro denominado segurança que se repete nos passadiços de concepção popular, que surgem com frequência nas judiarias.
         As comunidades fechadas, que praticam rituais condenados pela igreja católica, necessitam deste elemento arquitectónico para preservar a sua privacidade e segurança.
         Em Justes encontramos 4 passadiços que se encontram no mesmo quarteirão e unem casas de familiares. Neste quarteirão é possível circular por todo o lado sem ser visto na rua - Passadiço aberto que unia a habitação do Sr. Maximino Torres à habitação Palheiros Furcado, os quintais destas duas famílias ligam-se às construções da rua de baixo, e aos espaços das famílias Fontes e Guerra, com dois passadiços ainda existentes que com outro passadiço já inexistente, por demolição da construção superior, e que se ligava a outro edifício também dos Palheiros Furcado.
         Estes eram passadiços largos, com aproveitamento habitacional superior, sobradados e apoiados em cachorros das paredes mestras em granito. Na parte superior, a sua função habitacional poderia ser um quarto ou uma sala, já que ampliavam a área habitacional disponível sobreposta ao espaço público. Não era obrigatório ser um corredor, um espaço com características de passagem. Podia ser um espaço de permanência com 2 portas de ligação.
         Assim, os elementos das famílias Torres, Guerra, Fontes, Palheiros e Furcados, circulavam entre eles, discretamente, sem visibilidade da rua, preservando a sua privacidade e a sua vida domestica e comunitária.
         A evolução da vida em dois seculos, certamente apagaram diversos vestígios que nos permitiriam avaliar melhor esta situação especial na aldeia de Justes.
         Seria apenas uma questão de comodidade, de conforto? Sair à rua naquela época, implicava apanhar frio ou calor e sujar os pés nas estrumeiras.
         Seria um truque arquitectonico para resguardar rituais judaicos que se realizavam, juntando as famílias, num tempo de perseguição e de camuflagem das suas raízes?. 
         Os judeus praticaram em segredo a sua religião na Península Ibérica. Aí viveram séculos de prosperidade. Centraram-se em áreas como as finanças, medicina e na expansão da sua cultura durante o domínio muçulmano até 1942, altura em que os Reis Católicos e mais tarde em 1497 o rei de Portugal D. Manuel declararam a sua expulsão da Península. Muitos judeus converteram-se ao catolicismo integrando o grupo dos cristãos novos, porém, alguns deles, fizeram-no apenas aparentemente para se protegerem. O judaísmo era praticado discretamente por trás de muros, entre ruas estreitas, entre sussurros, na obscuridade como sombras.
         A comunidade de Justes será descendente destes cristãos- novos? Fica a dúvida.

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