sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sebastião Anjinho

As estórias contadas ao canto da lareira ora têm o sabor do real, ora têm o sabor do imaginário... que podem ou não atravessar intactas, diversas gerações, no entanto a sabedoria popular afirma que:" quem conta um conto acrescenta um ponto".


Perderão certamente qualidade ao passar da oralidade para a escrita.




Sebastião anjinho

Sebastião era moço de recados e de trabalho pesado, que foi habituado a obedecer. Desde criança a servir em Justes, para ganhar o seu sustento, aprendeu a ser submisso e obedecer às ordens daqueles que ele entendia serem superiores. Simpático para todos, risonho, afável, com alguma deficiência que se traduzia na má articulação das palavras, alguma descoordenação motora e pouco rasgo nas ideias.

Chegou a idade de ir prestar serviço militar.
Passou na inspecção nem se sabe muito bem como nem para quê, pois as inaptidões eram facilmente visíveis.
Fez uma recruta talvez especial, Lamego ou Santarém, não interessa. Dadas as suas limitações, foi frequentemente alvo das brincadeiras e partidas dos colegas do quartel.
Certo dia mandaram o Sebastião entrar de costas num cacifo metálico, daqueles que servem para guardar algumas peças de roupa que se utilizam nas camaratas militares, e ordenaram-lhe que ergue-se as mãos como se estivesse a rezar e fechasse os olhos.
Tiraram-lhe uma fotografia bem enquadrada e enviaram à pobre mãe que habitava numa aldeia também aqui em Trás-os-Montes.
A mãe analfabeta e temente a Deus, olha a fotografia e começa logo a chorar o pobre Sebastião finado e a rezar-lhe pela alma, coitado do seu menino, na tropa mas ainda anjinho.
A. Quelhas

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