terça-feira, 14 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Sr. dos Passos e Sra do Encontro - a verdadeira história (parte 3)


Com o passar do tempo, a partir de meados do século XIX, a religião e suas expressões foram progressivamente mudando de carácter, os exageros dramáticos caíram em desuso, e as imagens de roca começaram a perder sua função.
Em Justes estas imagens ainda saem integradas em procissões mas sem a teatralidade original. Mesmo a simulação do comovente encontro das duas figuras, mãe e filho, Nossa Senhora das Dores – a mãe – e Jesus Cristo - o Filho, razão de ser o nome Sra. do Encontro, no percurso da Paixão, vai-se perdendo na memória do povo, e normalmente as duas figuras saem e integram a procissão sempre juntas, não cumprindo assim o fim a que foram destinadas.
Segundo o depoimento das pessoas mais idosas de Justes, estas referenciam como terem presenciado e terem inclusivamente integrado pequenas dramatização do encontro dos dois, em tempo de Quaresma, ou de agradecimento de dádivas, já há mais de setenta anos, ou seja por volta da década de 30, do século XX.
Quanto ao ritual de vestir e despir as figuras, o Sr. Dos Passos possui uma linha de roupa interior e outra exterior, e sempre que muda de roupa, são os homens que realizam a operação de o vestir interiormente.
O curioso é a própria igreja, deixar levar ao esquecimento todo este processo histórico ligado a estas imagens, deixando apagar da memória dos crentes os rituais tradicionais da cultura cristã ibérica.
Anabela Quelhas

sábado, 11 de outubro de 2008

Sr. dos Passos e Sra do Encontro - a verdadeira história (parte2)

Originalmente as figuras poderiam dar contrastes de luz e sombra, os cabelos eram naturais e dos fièis, e o seu vestuário possuía pregas, que dariam a noção de movimento. Ou seja, havia uma caracterização com o objecto, de aproximação maior á realidade. Era necessário que imitassem as pessoas vivas, que a pintura fosse semelhante à carne humana. E para efeitos de maior ilusão, os seus olhos podiam ser de vidro ou cristal, as cabeleiras naturais como já foi referido, as lágrimas de resina brilhante, os dentes e unhas de marfim ou osso, e a preciosidade do sangue das chagas podia ser enfatizada com a aplicação de rubis.
O nosso Sr. Dos Passos é uma figura modesta à escala de uma pequena aldeia, porém o objectivo era o mesmo.
Para a consecução deste objectivo mimético, as imagens passaram a ser construídas com membros articulados, para que pudessem assumir uma gestualidade eficiente e evocativa, variável de acordo com o progresso da acção cénica.
As imagens serviriam assim para inflamar os sentidos dos fiéis em direcção às coisas celestiais, actuando como pontes entre o devoto e o ser divinizado que representam, pelas quais aquele poderia estabelecer alguma espécie de comunicação com o retratado e deste receber graças por intermédio de sua imagem.
Os vestidos variavam muito, podiam estar coordenados com a cena original da Paixão de Cristo com muito preto e roxo , mas também podia divergir completamente, para uma roupagem com brocados, galões, bordados a ouro e prata, sedas fitas e jóias.
As nossas imagens de roca, pelo menos actualmente, apresentam-se modestas.
São imagens diferentes na sua concepção e construção.
O Sr. dos Passos é uma escultura de anatomia completa mas muito simplificada, articulada e vestido em tecido. A articulação dos membros permite que assuma posturas diversas de acordo com o progresso da acções cénicas para as quais foi concebido..
A Sra. do Encontro é uma escultura mais singela, possui o corpo com armação de madeira com feitio de tronco, excepto as mãos, pescoço e cabeça, que são as partes visiveis.
O termo roca por vezes é associado à roca de fiar, seja pelo uso da roca na confecção do tecido que era usado para vestir as imagens, seja por causa da semelhança da forma de certo tipo de fuso onde se enrolava o fio, ou do bojo da vara para a rama do algodão destinada ao tear, com as estruturas abauladas de ripas do corpo das estátuas de representação incompleta. Cabe ressaltar há efectivamente uma diferença entre as imagens de roca das imagens de vestir, Todas as imagens de roca são de vestir mas nem todas as imagens de vestir são de roca, ou seja têm a finalidade de sair da igreja para a realização de cenografias religiosas. (continua)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sr dos Passos e Sra do Encontro - a verdadeira história (parte1)




Sr. dos Passos e Sra do Encontro


O denominado Sr. dos Passos é uma estátua de roca existente na Igreja Santa Maria Madalena em Justes.
Sra do Encontro é outra estátua de características um pouco diferentes depositada também na mesma igreja.



Sr. dos Passos, é o nome pelo qual é tratado aqui em Justes. Noutros sítios acrescentam-lhe o Nosso para que sugira a figura sacra que efectivamente é, ou seja a invocação de Jesus Cristo personalizada no trajecto que este percorreu desde a sua condenação até à sua cruxificação no Calvário e sepultamento.
A devoção a esta figura ultrapassa a fundação desta pequena aldeia.


A investigação histórica relata que as Cruzadas após visitarem os lugares sagrados de Jerusalém, quiseram reproduzir na Europa e espiritualmente, esse trajecto sobre a forma de dramas sacros e procissões. No século XVI já se reconstruíam 14 momentos desse trajecto, o que vulgarmente se chamam de Estações ou Passos da Paixão de Cristo.
Em Portugal esta invocação tornou-se muito popular, dando origem a uma vasta iconografia e onde existem inúmeras igrejas fundadas sob a sua protecção, que durante a Semana Santa procedem à tal dramatização referida.
A teatralização das cenas religiosas durante a Idade Média tem como inspiração o teatro de marionetas, ou seja o uso de bonecos vestidos de acordo com a cena que representavam. Recuperado aquele tipo de encenação pelo teatro de ópera, no século XVI europeu, as cenas, caracteristicamente, uniam a visão e a audição ao sentimento e à ilusão.
Para colocar os conjuntos de imagens na rua, foi necessário investir nas esculturas em tamanho natural e denominadas por esculturas de roca (termo de origem castelhana, que significa rocha, relacionado com os locais que iriam servir de cenários a estas representações).
Assim durante a semana santa ocorreriam essas cenas religiosas na rua, que acabaram por ter também influência barroca, através da sua grandiosidade e teatralidade exprimindo o sofrimento na Paixão de Cristo.
O sistema foi largamente explorado pelo clero e encontrou grande aceitação pela massa dos fiéis, sendo verificada grande irradiação desta dramaturgia para o mundo católico das Américas realizada especialmente por Espanha e Portugal.

As duas figuras religiosas existentes em Justes, estão certamente ligadas a esta descrição e deverão datar da transição do século XVII para o século XVIII. As imagens permaneceram ao longo dos anos guardadas e expostas dentro de uma vitrine/nicho em madeira, como a existente nesta capela, e localizada do lado esquerdo do altar mor, e que aí permaneceu até aos anos 80, quando foi removida para restauro da Igreja. Esta vitrine nicho também estaria integrada numa linha decorativa barroca, lacada a branco e dourado, semelhantes às ainda existentes em diversas igrejas da região. (continua)
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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Escola Primária




Escola do ensino básico 1º ciclo.


Edificio de um único piso, de construção característica do Estado Novo, formado por duas salas com acessos distintos.


O alcado princicpal é simétrico, com seis fenestrações e duas portas; estas rematadas com arco de volta inteira, e com 3 degarus de acesso. Todas as aberturas se encontram configuradas em granito. Os alçados laterias são cegos, e os posteriores possuem alpendres também simétricos, que abrigam um grande espaço protegido das intempéries, com acesso às instalações sanitárias e à antecamara da entrada ligada às portas da frente. A cobertura é inclinada em telha rematada por beirais.


No interior o acesso é feito por uma ante-câmara ou vestíbulo, já mencionado, onde se localizam os cabides dos alunos; desde espaço acede-se à sala de aula. Este espaço tem o pavimento em soalho de madeira, e possui uma lareira.


No tempo da ditadiura de Salazar, o equipamento limitava-se às carteiras que eram duplas em madeira, com vazios para colocação dos tinteiros, um quadro de parede e outro com estrutura de madeira, e uma secretária. A decoração era sobria. Duas fotografias emolduradas do Ditador António Oliveira Salazar e do seu antigo Presidente da Républica (1º do Estado Novo) Marechal Carmona, um cruxifixo e uma bandeira de Portugal que espreitava por entre os vidros da estante.


As janelas por vezes possuiam um vasos com umas sardinheiras decrépitas.


O edificio está localizado num espaço plano com muro em granito, actualmemte, com um pequeno fontenário a assinalar o eixo de simetria.


Neste espaço de recreio sempre existiu um grande castanheiro.


À époda descrita, as instalações sanitárias eram inexistentes. Havia uma serie de compartimentos transformados em arrecadação.

Quantos passaram por aqui?