sábado, 11 de outubro de 2008

Sr. dos Passos e Sra do Encontro - a verdadeira história (parte2)

Originalmente as figuras poderiam dar contrastes de luz e sombra, os cabelos eram naturais e dos fièis, e o seu vestuário possuía pregas, que dariam a noção de movimento. Ou seja, havia uma caracterização com o objecto, de aproximação maior á realidade. Era necessário que imitassem as pessoas vivas, que a pintura fosse semelhante à carne humana. E para efeitos de maior ilusão, os seus olhos podiam ser de vidro ou cristal, as cabeleiras naturais como já foi referido, as lágrimas de resina brilhante, os dentes e unhas de marfim ou osso, e a preciosidade do sangue das chagas podia ser enfatizada com a aplicação de rubis.
O nosso Sr. Dos Passos é uma figura modesta à escala de uma pequena aldeia, porém o objectivo era o mesmo.
Para a consecução deste objectivo mimético, as imagens passaram a ser construídas com membros articulados, para que pudessem assumir uma gestualidade eficiente e evocativa, variável de acordo com o progresso da acção cénica.
As imagens serviriam assim para inflamar os sentidos dos fiéis em direcção às coisas celestiais, actuando como pontes entre o devoto e o ser divinizado que representam, pelas quais aquele poderia estabelecer alguma espécie de comunicação com o retratado e deste receber graças por intermédio de sua imagem.
Os vestidos variavam muito, podiam estar coordenados com a cena original da Paixão de Cristo com muito preto e roxo , mas também podia divergir completamente, para uma roupagem com brocados, galões, bordados a ouro e prata, sedas fitas e jóias.
As nossas imagens de roca, pelo menos actualmente, apresentam-se modestas.
São imagens diferentes na sua concepção e construção.
O Sr. dos Passos é uma escultura de anatomia completa mas muito simplificada, articulada e vestido em tecido. A articulação dos membros permite que assuma posturas diversas de acordo com o progresso da acções cénicas para as quais foi concebido..
A Sra. do Encontro é uma escultura mais singela, possui o corpo com armação de madeira com feitio de tronco, excepto as mãos, pescoço e cabeça, que são as partes visiveis.
O termo roca por vezes é associado à roca de fiar, seja pelo uso da roca na confecção do tecido que era usado para vestir as imagens, seja por causa da semelhança da forma de certo tipo de fuso onde se enrolava o fio, ou do bojo da vara para a rama do algodão destinada ao tear, com as estruturas abauladas de ripas do corpo das estátuas de representação incompleta. Cabe ressaltar há efectivamente uma diferença entre as imagens de roca das imagens de vestir, Todas as imagens de roca são de vestir mas nem todas as imagens de vestir são de roca, ou seja têm a finalidade de sair da igreja para a realização de cenografias religiosas. (continua)

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