segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Análise de um quarteirão

 

Análise de um quarteirão por Anabela Quelhas

LOCALIZAÇÃO - Justes

Confrontações

Nordeste – Rua Dr. César Torres (caminho de Trás Celeiros)

Sudeste – Rua Dr. Otílio Figueiredo

Sudoeste – Rua da Pereira

Noroeste – Rua Alcides Boal

Implantação: Lotes rústicos e urbanos perfeitamente contidos entre os 4 arruamentos, em que os urbanos compõem uma “coroa circular” quase completa, portanto um perímetro fechado ao nível da construção, exceptuando o limite nordeste.  No limite nordeste havia apenas um caminho estreito de piso muito irregular, por onde quase ninguém passava, denominado Trás de Celeiros. A mancha de construção utiliza o artificio materializado pelo chamado passadiço, unindo este quarteirão para a malha urbana localizada a sudeste, em dois pontos. Um deles ainda sobrevive na casa dos Guerra. Existe também uma passagem superior de ligação entre habitações na rua Alcides Boal.

Área construída:

A massa construída forma uma frente contínua virada para a rua, fechando dentro de si os espaços de logradouro. Ao nível das ruas, o utente apenas visualiza as construções e uma ou outra reentrância.

Na área sudeste as construções desenham-se abrindo-se numa curva larga e côncava para acolher um solo granítico, denominado e com função de eira, incluindo também aqui um passadiço secundário. 

Algumas das construções estão datadas, integrando essencialmente os séculos XVIII e XIX.

Todas as construções são de granito, com coberturas em telha cerâmica.

Tipologias originais

Rua Dr César Torres – sem construções - topo aberto

Rua Dr. Otílio Figueiredo– 1 piso – lojas de animais e arrecadações; 2 pisos - R/chão (lojas de animais ou arrecadações); 1º andar (habitação). Utilização de 3 passadiços.

Sudoeste – Rua da Pereira – 2 pisos – R/chão (lojas de animais ou arrecadações); 1º andar (habitação)

Noroeste – Rua Alcides Boal - R/chão – 2 pisos – R/chão (lojas de animais ou arrecadações); 1º andar (habitação).

A maioria das construções apresentam alçados muito fechados para a rua, apenas com as aberturas essenciais e abrem-se para o interior do quarteirão, através de escadas abertas e varandas, acolhendo na traseira os espaços de maior vivência familiar e no desenvolvimento de algumas tarefas agrícolas.. Apresenta-se como excepção a casa dos Fontes (esquina da rua da Pereira e rua dr Otilio Figueiredo) e casa dos Condes (rua Dr Otílio Figueiredo).

Algumas habitações apresentavam ligações permitindo o acesso fácil entre elas e pequenos apontamentos de alguma erudição - salas com tecto de maceira, bancos de janela, armários embutidos, registo da era na porta principal, etc.  

Áreas não construídas (rústicas) – localizam-se no interior do quarteirão e são encerradas, fechadas para as ruas, excepto a nordeste. Denominam-se quinteiros e todos eles ligam-se âs habitações e arrecadações. Estes quinteiros possuem ou não pequenos muretes divisórios. Existe um caminho pedonal de consortes que atravessa em linha recta na direção noroeste para sudeste, sendo o eixo de ligação entre as várias áreas.

Os quinteiros e o eixo de ligação, permitem que se estabeleça uma fácil e rápida ligação entre as construções e entre as duas ruas opostas. No limite sudeste deste caminho existe uma ligação fácil para a eira.

Os quinteiros são explorados como hortas pontuados por árvores de fruto (pereiras, macieiras, cerejeiras)

Ocupação:

Todo este aglomerado pertencia a pessoas da mesma família: Palheiros, Forcado, Torres, Fontes, Guerra e Condes. Neste momento nem todas pertencem aos descendentes.

Integração no aglomerado de Justes:

Quem percorre as ruas da aldeia, não percebe toda esta estrutura que caracteriza o quarteirão em causa. As ruas dão continuidade à malha urbana, a linguagem arquitectónica está integrada e apenas os passadiços assumem-se como elementos invulgares. Porém este quarteirão é distinto do resto da aldeia, é ambivalente nas ligações, permite o isolamento e permite as ligações, o que lhe confere uma privacidade discreta em relação ao resto da aldeia. Provavelmente a maioria dos habitantes de Justes desconhecem esta situação e nunca presenciaram a vivência que se praticou em 3 séculos no seu interior.
 
 


domingo, 24 de agosto de 2014

CALDO DE FARINHA



 
Caldo confeccionado em Justes pelas melhores cozinheiras do antigamente, considerado uma verdadeira especialidade. Vi fazer algumas vezes à minha mãe.
 
Ingredientes:
  • farinha de milho branca
  • couve galega
  • água
  • azeite
  • unto
  • sal
  • carne de porco em vinha d’alhos
 
Confecção:
Numa panela com água a ferver, tempera-se com  de sal,  fio de azeite, unto e carne previamente temperada em marinada de vinha d’alhos. Junta-se couve galega segada (não muita quantidade). Deita-se então na panela farinha de milho que entretanto se desfez num pouco de água fria. Deixa-se cozer bem a farinha mexendo de vez em quando para não encaroçar. Caso esteja a ficar muito grossa, acrescenta-se mais água (a textura deverá ficar como a da papa Cérelac). Quando estiver quase pronta rectifica-se o sal e deita-se uma colher de sopa de vinagre (facultativo). Serve-se bem quente.
Receita de Rosália Palheiros e Matilde Correia
 

sábado, 23 de agosto de 2014

1ª guerra mundial (1914-1918)


Também temos os nossos heróis.
A propósito da 1ª Guerra Mundial (1914), da qual se comemora agora o primeiro centenário, pretendo realçar os nomes dos nossos combatentes que foram alistados nos grupos que combateram em:
 França: António Catarino, José Ribeiro e António Panelas.
Angola: Artur do Ferreiro e António Maria Machado (casado em Justes com Preciosa Palheiros)

Enquadramento histórico

O conflito mundial que envolveu as grandes potencias a nível mundial, que se organizaram em duas frentes:
-  Aliados (França, Inglaterra e Rússia)
- Impérios centrais ( Alemanha, Áustria, Hungria e Itália).

 Portugal participou nesta guerra ao lado dos Aliados.
Nos primeiros anos foram enviados soldados para as ex-colónias portuguesas, Angola e Moçambique, territórios ameaçados pela Alemanha, e posteriormente em 1917, os soldados portugueses foram enviados para Flandres.
A participação de Portugal neste conflito mundial envolveu a mobilização de 200 mil homens. !0 mil homens morreram, milhares ficaram feridos. Foi um esforço muito superior à capacidade deste país.
Dos homens mencionados de Justes, António Maria Machado era sargento, os outros não tinham qualquer patente.
Esta foi a guerra mais mortífera de todas. A vida nas trincheiras era dura (europa).
A trincheira era uma escavação linear no solo. As valas eram escavadas no chão pelos próprios soldados, com cerca de dois metros de profundidade e vários quilômetros de extensão . nelas milhões de soldados ficaram sujeitos à fome ao frio e ao medo constante da morte por bombardeios, granadas, tiros e doenças.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Os nomes e as origens


 
 
Tenho organizado os meus antepassados em 7 árvores genealógicas, para entender as ligações entre os seus elementos, pois percebi que existe uma malha complexa que une diversas famílias de Justes – os Quelhas, os Alves, os Palheiros, os Almeidas, os Correias, os Silva, os Boais e os Vieiras. Poderei afirmar que as pessoas nascidas em Justes há mais de 50 figuram nestas árvores.

A minha investigação vai até meados do sec XIX. Daí para trás, é um tempo e um espaço desconhecido. Analisando estas árvores parece-me que devo concluir que Justes era uma comunidade muito fechada, e que as relações familiares variavam essencialmente entre estas famílias acrescidas dos Fontes e dos Guerra. As famílias proliferavam na descendência e cruzavam-se entre si através do casamento. Este esquema consanguíneo de casamentos – casamentos entre primos mais ou menos próximos – era assim uma prática para aqueles que permaneceram nesta aldeia com as consequências mais ou menos gravosas ao nível da saúde desta comunidade.

A nossa origem é difícil de determinar com certeza e evidências. A minha investigação, a articulação do conhecimento que fui acumulando ao longo dos anos e as pessoas que fui ouvindo, levam-me a construir uma teoria apenas minha, sujeita a contestação e aberta a alterações.

Tal como uma parte da população portuguesa, seremos provavelmente descendentes de cristãos novos que se refugiaram em terras transmontanas, depois de perseguidos e expulsos de Espanha no séc. XV. Gentes que pretenderam ficar por ali esquecidos da inquisição, livrando-se da fogueira, mudando de nome e aparentemente assimilando novos costumes, tentando limpar o sangue.

Se consultarmos a listagem de nomes adoptados pelos cristãos novos, encontramos os SILVA, os CORREIA, os ALVES, os ALMEIDA, os VIEIRA, os FONTES, os GUERRA…. Curiosamente os QUELHAS não estão lá, os PALHEIROS e FURCADOS também não.

Os Quelhas segundo parece serão originários da zona da Catalunha e sul de França.

Os Palheiros e Furcados, eram um casal: Ana Maria Palheiros e Joaquim Alves Furcado.

Até há pouco tempo eu escrevia Forcado com o, mas recentemente descobri que os assentos de baptismo dos filhos deste casal, aparece sempre FURCADO com u.

O nome FURCADO, incompreensivelmente, extinguiu-se, permanecendo o nome PALHEIROS pela via matriarcal. Não me parece haver qualquer confusão nos registos. Este casal teve 10 filhos e em todos eles se eliminou o nome Furcado, parecendo assim que houve uma vontade assumida de o fazer.

Qual era o enigma dessa família que levou à eliminação do seu apelido?

O significado de Forcado

1.Instrumento agrícola formado por um pau terminado em dois ou três dentes compridos. = FORQUILHA

2. Quantidade de palha, feno, etc., que o forcado levanta de uma vez.

3. Tijolo largo e delgado, também chamado tijolo de forcado.

4. [Tauromaquia]   [Tauromaquia]  Homem que nas touradas faz as pegas, enfrentando o touro corpo a corpo.

domingo, 17 de agosto de 2014

DOMINGO DE FESTA 17 DE AGOSTO DE 2014


FESTA EM HONRA DE NOSSA SENHORA DE LURDES
 procissão

 
 
 
 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

MANUEL VIEIRA DA SILVA - o maçom


O meu bisavô, Manuel Vieira da Silva de seu nome, era maçom.

Situação oculta pela descendência, disfarçada pelos filhos e netos, redescoberta pelos bisnetos da minha geração, através de um documento sabiamente escondido num baú antigo de madeira e couro, desenhado em tachinhas amarelas e num vão falso, espaço difícil de encontrar.

Depois de abrir pequenos fechos, descobriu-se o mundo do maçom, através de um original da maçonaria do Vale do Lavradio.

 O ser maçom ou pedreiro livre foi motivo de humor, entre os bisnetos, ainda dentro daquele falso conceito associado, que ser pedreiro livre, era uma rebeldia, uma oposição feroz à igreja e ao poder instituído. Sociedades secretas são sempre o foco de atenção do nosso aventureirismo adolescente. Tudo o que é secreto desperta-nos, tudo o que é proibido atrai-nos.
PASSAPORTES
Entidade detentora
Arquivo Distrital de Vila Real
- Código de referência

PT-ADVRL-GCVR/H/D/010/1621/183
- Cota original
61
- Título
Registo de passaporte
- Datas
Vila Real, 07/02/1880
- Nível de descrição
Documento Simples
- Dimensão e suporte
160 x 220 mm.; Papel
- Âmbito e conteúdo
Requerente:
Manuel Vieira da Silva
Idade: 31 anos Lugar: Justes
Freguesia: Lamares
Concelho: Vila Real
Distrito: Vila Real
Destino: Brasil
- Localização
F. 46v

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Entidade detentora
Arquivo Distrital de Vila Real
- Código de referência
PT-ADVRL-GCVR/H/D/010/1624/249
- Cota original
177
- Título
Registo de passaporte
- Datas
Vila Real, 05/03/1883
- Nível de descrição
Documento Simples
- Dimensão e suporte
160x210 mm.; Papel
- Âmbito e conteúdo
Requerente:
Matilde Alves Ribeiro da Silva
Idade: 28 anos
Lugar: Justes
Freguesia: Lamares
Concelho: Vila Real
Distrito: Vila Real
Destino: Brasil
- Localização
F. 63
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Manuel Vieira da Silva emigrou para o Brasil, no século XIX, ainda quando o Brasil se escrevia com z.
 BRAZIL.
Emigrou com a esposa, Matilde Alves Ribeiro da Silva, num barco a vapor. Ele primeiro, ela depois. Devem ter passado dias angustiantes a atravessar o oceano, em direcção a terras de Vera Cruz, amontoados com outros iguais, desafiando a fome, as pulgas e os piolhos, rezando para não apanhar uma doença mortal que os atirasse aos peixinhos. Mais de  um mês de miséria e isolamento levados ao extremo, onde abundava a promiscuidade, o roubo e a violência. Desembarcaram são e salvos em São Sebastião do Rio de Janeiro.
Um ano mais tarde, já negociante, ingressa na maçonaria brasileira.


A TODOS OS MMAC.: ESPALHADOS SOBRE A SUPERFÍCIE DA TERRA

S.:  S.:  S.:

O GR.: CAP .: GER.: DOS RITOS AZUES NO SEIO DO GR.: OR.: DO BRAZIL AO VALE DO LAVRADIO

MANUEL VIEIRA DA SILVA COM 32 ANOS, CASADO, NEGOCIANTE, é aceite como OPERÁRIO DA AUG LOJ COMMERCIO E ARTES DO RIO DE JANEIRO NO DIA 22 DO 4º MÊS DO ANO VL 5888

(31 DE MARÇO DE 1881)

Regressa a Portugal com a mulher tuberculosa e os seus 4 filhos: Belmira, Etelvina, Daniel e Albertino. Fez outras viagens entre os dois lados do oceano. O seu corpo jaz no cemitério da sua terra natal.

Esta é uma história com história, em outras histórias, de um ilustre desconhecido, redesenhada simbolicamente, por mim em cada triângulo, em cada pirâmide, em cada olho, em cada sol, em cada coluna, através do compasso e da régua, de arquitecta que sou, sem avental, mas com determinação e equilíbrio, procurando sempre e humildemente, o conhecimento.

In Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado, Anabela Quelhas



Grupo de bombos de justes

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

MAÇADOIRO



 

 
O cultivo do linho é uma arte ascentral, que na aldeia de Justes se extinguiu nos anos 60.  
O ciclo do linho envolve várias fases, transformando a planta em peças têxteis, belas, alvas e frescas.
Numa das fases do tratamento do linho, maça-se o linho, partindo o caule, separando a parte lenhosa da fibra. Essa operação é feita sobre uma pedra, utilizando um maço.
Ao fundo da rua da Pereira, existe um maçadoiro, cuja verdadeira utilidade se perde no tempo.
Na memória colectiva recente, o maçadoiro é uma grande peça de granito assente em duas bases do mesmo material, com altura ergonómica equivalente à altura do joelho, servindo para sentar.
Sentaram-se ali muitas gentes, ao longo dos dias e das noites, especialmente nas noites de verão, servindo de espaço para sentir o fresco das noites quentes de Julho. Serviu também para repousar o cansaço por quem lá passava e encontrava interlocutor.
É uma peça essencial que marca o eixo da rua e a intersepção com a rua das fontes.
É uma pedra calada.
As gentes nascem e morrem e o maçadoiro permanece. Permanece calado, testemunho de tanta conversa sentada, de gente cansada, de gente repousada, de gente triste e alegre, de gente humilde, de gente temerosa do deus e do diabo, mas cuja função se adaptou ao tempo de cada um.
Hoje o maçadoiro é pedra calada e solitária, com um ponto vermelho do seu lado esquerdo.
AQ

Histórias que se perdem na história


Histórias que se perdem na história

Entre 1947 e 1952, 5500 crianças austríacas foram acolhidas por famílias portuguesas. Fugiam da II Guerra Mundial. Com frio, com fome e com às famílias mutiladas pela guerra, procuraram dias melhores, sítios que as acolhessem. Talvez Portugal fosse o paraíso, ausentando-as da guerra e oferecendo-lhes um espaço que poderia ser pelo menos um intervalo dessa guerra.


JUSTES também acolheu uma destas crianças, oferecendo-lhe o conforto de uma das melhores casas da aldeia, a casa do Sr Silvino e Sra D. Amélia. Mas o melhor conforto era certamente poder brincar na rua, sentirem-se protegidas por todos, poderem comer e beber sem responsabilidades de maior e terem aquilo que todas as crianças precisam: amor e carinho.


Apenas sei isto, era um menino. A identificação dessa criança, e toda a sua história ouvia-a algumas vezes em criança, mas não retive detalhes.
Partilho aqui um texto que retrata um de muitos casos, certamente semelhante ao nosso caso de Justes.
AQ

“Nunca na vida Fini Gradischnig tinha visto uma banana ou uma laranja. Nem imaginava que numa terra mais a Sul da sua, a Áustria, houvesse gente a comer sopa fria de tomate. Muito menos imaginava um país em que as crianças pudessem brincar despreocupadas um dia inteiro. Filha da II Guerra, nascida no Inverno de 1941, um dos mais rigorosos do século, sabia bem o que era passar fome ou não ter pai – o seu “foi para a Rússia e lá ficou”. É tudo o que sabe dele.

Um dia, numa aula, um professor perguntou quem queria passar umas férias fora do país, em casa de uma família, que poderia ser portuguesa, espanhola, suíça. Fini Gradischnig tomou logo a decisão. Até porque gostou muito de uma daquelas palavras: Portugal (não sabia ainda que nunca mais se separaria dela). Tinha oito anos e tratou de tudo, até dos papéis para a viagem e de conseguir a assinatura da mãe. “Era assim, éramos muito mais independentes, também fruto daquele tempo horrível.”

Como Fini, outras 5500 crianças austríacas foram acolhidas, entre 1947 e 1952, por famílias portuguesas, num programa da Cáritas. Fugiam à destruição e à miséria do pós-guerra. Em Viena, entravam num comboio com destino a Génova, em Itália, onde eram esperadas por um barco que as levaria ao destino final, Lisboa, numa viagem raramente calma, quase sempre horrível. Levavam uma mala e, ao pescoço, um cartão com o nome, um número e o apelido da família que os iria buscar no destino.

Uma viagem dura


A viagem era dura. Demoravam uma semana a chegar. Eram centenas de crianças, muito juntas. Há quem conte que veio a dormir debaixo dos bancos do comboio. Alguns ficavam doentes durante esses dias, no barco quase todos enjoavam, incluindo os funcionários da Cáritas que as acompanhavam até serem entregues às famílias, já depois de um banho que tomavam logo à chegada.

Mas Portugal seria “o paraíso”, tinham-lhes prometido. E é assim que Fini descreve o que encontrou. Depressa as casas semi-destruídas em que viviam nas grandes cidades austríacas dariam lugar a outras que lhes pareciam enormes, em aldeias ou pequenas vilas espalhadas pelo país. “Tudo era grande e bonito, de mais para mim, assustava-me um bocadinho”, contou esta austríaca(…)