O cultivo do linho é uma arte ascentral,
que na aldeia de Justes se extinguiu nos anos 60.
O ciclo do linho envolve várias fases,
transformando a planta em peças têxteis, belas, alvas e frescas.
Numa das fases do tratamento do linho,
maça-se o linho, partindo o caule, separando a parte lenhosa da fibra. Essa
operação é feita sobre uma pedra, utilizando um maço.
Ao fundo da rua da Pereira, existe um
maçadoiro, cuja verdadeira utilidade se perde no tempo.
Na memória colectiva recente, o maçadoiro é
uma grande peça de granito assente em duas bases do mesmo material, com altura ergonómica
equivalente à altura do joelho, servindo para sentar.
Sentaram-se ali muitas gentes, ao longo dos
dias e das noites, especialmente nas noites de verão, servindo de espaço para
sentir o fresco das noites quentes de Julho. Serviu também para repousar o
cansaço por quem lá passava e encontrava interlocutor.
É uma peça essencial que marca o eixo da
rua e a intersepção com a rua das fontes.
É uma pedra calada.
As gentes nascem e morrem e o maçadoiro
permanece. Permanece calado, testemunho de tanta conversa sentada, de gente
cansada, de gente repousada, de gente triste e alegre, de gente humilde, de
gente temerosa do deus e do diabo, mas cuja função se adaptou ao tempo de cada
um.
Hoje o maçadoiro é pedra calada e solitária,
com um ponto vermelho do seu lado esquerdo.
AQ
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