Análise de um quarteirão por Anabela Quelhas
LOCALIZAÇÃO - Justes
Confrontações
Nordeste – Rua Dr. César Torres
(caminho de Trás Celeiros)
Sudeste – Rua Dr. Otílio
Figueiredo
Sudoeste – Rua da Pereira
Noroeste – Rua Alcides Boal
Implantação: Lotes rústicos e urbanos perfeitamente contidos entre
os 4 arruamentos, em que os urbanos compõem uma “coroa circular” quase
completa, portanto um perímetro fechado ao nível da construção, exceptuando o
limite nordeste. No limite nordeste
havia apenas um caminho estreito de piso muito irregular, por onde quase
ninguém passava, denominado Trás de Celeiros. A mancha de construção utiliza o
artificio materializado pelo chamado passadiço, unindo este quarteirão para a
malha urbana localizada a sudeste, em dois pontos. Um deles ainda sobrevive na
casa dos Guerra. Existe também uma passagem superior de ligação entre
habitações na rua Alcides Boal.
Área construída:
A massa construída forma uma
frente contínua virada para a rua, fechando dentro de si os espaços de
logradouro. Ao nível das ruas, o utente apenas visualiza as construções e uma
ou outra reentrância.
Na área sudeste as construções
desenham-se abrindo-se numa curva larga e côncava para acolher um solo
granítico, denominado e com função de eira, incluindo também aqui um passadiço
secundário.
Algumas das construções estão
datadas, integrando essencialmente os séculos XVIII e XIX.
Todas as construções são de
granito, com coberturas em telha cerâmica.
Tipologias originais
Rua Dr César Torres – sem
construções - topo aberto
Rua Dr. Otílio Figueiredo– 1 piso
– lojas de animais e arrecadações; 2 pisos - R/chão (lojas de animais ou
arrecadações); 1º andar (habitação). Utilização de 3 passadiços.
Sudoeste – Rua da Pereira – 2
pisos – R/chão (lojas de animais ou arrecadações); 1º andar (habitação)
Noroeste – Rua Alcides Boal -
R/chão – 2 pisos – R/chão (lojas de animais ou arrecadações); 1º andar
(habitação).
A maioria das construções
apresentam alçados muito fechados para a rua, apenas com as aberturas
essenciais e abrem-se para o interior do quarteirão, através de escadas abertas
e varandas, acolhendo na traseira os espaços de maior vivência familiar e no
desenvolvimento de algumas tarefas agrícolas.. Apresenta-se como excepção a
casa dos Fontes (esquina da rua da Pereira e rua dr Otilio Figueiredo) e casa
dos Condes (rua Dr Otílio Figueiredo).
Algumas habitações apresentavam
ligações permitindo o acesso fácil entre elas e pequenos apontamentos de alguma
erudição - salas com tecto de maceira, bancos de janela, armários embutidos,
registo da era na porta principal, etc.
Áreas não construídas (rústicas) – localizam-se no interior do
quarteirão e são encerradas, fechadas para as ruas, excepto a nordeste.
Denominam-se quinteiros e todos eles ligam-se âs habitações e arrecadações.
Estes quinteiros possuem ou não pequenos muretes divisórios. Existe um caminho
pedonal de consortes que atravessa em linha recta na direção noroeste para
sudeste, sendo o eixo de ligação entre as várias áreas.
Os quinteiros e o eixo de ligação,
permitem que se estabeleça uma fácil e rápida ligação entre as construções e
entre as duas ruas opostas. No limite sudeste deste caminho existe uma ligação
fácil para a eira.
Os quinteiros são explorados como
hortas pontuados por árvores de fruto (pereiras, macieiras, cerejeiras)
Ocupação:
Todo este aglomerado pertencia a
pessoas da mesma família: Palheiros, Forcado, Torres, Fontes, Guerra e Condes.
Neste momento nem todas pertencem aos descendentes.
Integração no aglomerado de Justes:
Quem percorre as ruas da aldeia,
não percebe toda esta estrutura que caracteriza o quarteirão em causa. As ruas
dão continuidade à malha urbana, a linguagem arquitectónica está integrada e
apenas os passadiços assumem-se como elementos invulgares. Porém este
quarteirão é distinto do resto da aldeia, é ambivalente nas ligações, permite o
isolamento e permite as ligações, o que lhe confere uma privacidade discreta em
relação ao resto da aldeia. Provavelmente a maioria dos habitantes de Justes
desconhecem esta situação e nunca presenciaram a vivência que se praticou em 3
séculos no seu interior.
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