Histórias que se perdem na
história
Entre 1947 e 1952, 5500
crianças austríacas foram acolhidas por famílias portuguesas. Fugiam da II
Guerra Mundial. Com frio, com fome e com às famílias mutiladas pela guerra,
procuraram dias melhores, sítios que as acolhessem. Talvez Portugal fosse o
paraíso, ausentando-as da guerra e oferecendo-lhes um espaço que poderia ser
pelo menos um intervalo dessa guerra.
JUSTES
também acolheu uma destas crianças, oferecendo-lhe o conforto de uma das
melhores casas da aldeia, a casa do Sr Silvino e Sra D. Amélia. Mas o melhor
conforto era certamente poder brincar na rua, sentirem-se protegidas por todos,
poderem comer e beber sem responsabilidades de maior e terem aquilo que todas
as crianças precisam: amor e carinho.
Apenas sei isto, era um menino. A
identificação dessa criança, e toda a sua história ouvia-a algumas vezes em
criança, mas não retive detalhes.
Partilho aqui um texto que retrata
um de muitos casos, certamente semelhante ao nosso caso de Justes.
AQ
AQ
“Nunca na vida Fini Gradischnig tinha visto uma banana ou
uma laranja. Nem imaginava que numa terra mais a Sul da sua, a Áustria,
houvesse gente a comer sopa fria de tomate. Muito menos imaginava um país em
que as crianças pudessem brincar despreocupadas um dia inteiro. Filha da II
Guerra, nascida no Inverno de 1941, um dos mais rigorosos do século, sabia bem
o que era passar fome ou não ter pai – o seu “foi para a Rússia e lá ficou”. É
tudo o que sabe dele.
Um dia, numa aula, um professor perguntou quem queria passar umas férias fora do país, em casa de uma família, que poderia ser portuguesa, espanhola, suíça. Fini Gradischnig tomou logo a decisão. Até porque gostou muito de uma daquelas palavras: Portugal (não sabia ainda que nunca mais se separaria dela). Tinha oito anos e tratou de tudo, até dos papéis para a viagem e de conseguir a assinatura da mãe. “Era assim, éramos muito mais independentes, também fruto daquele tempo horrível.”
Como Fini, outras 5500 crianças austríacas foram acolhidas, entre 1947 e 1952, por famílias portuguesas, num programa da Cáritas. Fugiam à destruição e à miséria do pós-guerra. Em Viena, entravam num comboio com destino a Génova, em Itália, onde eram esperadas por um barco que as levaria ao destino final, Lisboa, numa viagem raramente calma, quase sempre horrível. Levavam uma mala e, ao pescoço, um cartão com o nome, um número e o apelido da família que os iria buscar no destino.
Um dia, numa aula, um professor perguntou quem queria passar umas férias fora do país, em casa de uma família, que poderia ser portuguesa, espanhola, suíça. Fini Gradischnig tomou logo a decisão. Até porque gostou muito de uma daquelas palavras: Portugal (não sabia ainda que nunca mais se separaria dela). Tinha oito anos e tratou de tudo, até dos papéis para a viagem e de conseguir a assinatura da mãe. “Era assim, éramos muito mais independentes, também fruto daquele tempo horrível.”
Como Fini, outras 5500 crianças austríacas foram acolhidas, entre 1947 e 1952, por famílias portuguesas, num programa da Cáritas. Fugiam à destruição e à miséria do pós-guerra. Em Viena, entravam num comboio com destino a Génova, em Itália, onde eram esperadas por um barco que as levaria ao destino final, Lisboa, numa viagem raramente calma, quase sempre horrível. Levavam uma mala e, ao pescoço, um cartão com o nome, um número e o apelido da família que os iria buscar no destino.
Uma viagem dura
A viagem era dura. Demoravam uma semana a chegar. Eram centenas de crianças, muito juntas. Há quem conte que veio a dormir debaixo dos bancos do comboio. Alguns ficavam doentes durante esses dias, no barco quase todos enjoavam, incluindo os funcionários da Cáritas que as acompanhavam até serem entregues às famílias, já depois de um banho que tomavam logo à chegada.
Mas Portugal seria “o paraíso”, tinham-lhes prometido. E é assim que Fini descreve o que encontrou. Depressa as casas semi-destruídas em que viviam nas grandes cidades austríacas dariam lugar a outras que lhes pareciam enormes, em aldeias ou pequenas vilas espalhadas pelo país. “Tudo era grande e bonito, de mais para mim, assustava-me um bocadinho”, contou esta austríaca(…)
A viagem era dura. Demoravam uma semana a chegar. Eram centenas de crianças, muito juntas. Há quem conte que veio a dormir debaixo dos bancos do comboio. Alguns ficavam doentes durante esses dias, no barco quase todos enjoavam, incluindo os funcionários da Cáritas que as acompanhavam até serem entregues às famílias, já depois de um banho que tomavam logo à chegada.
Mas Portugal seria “o paraíso”, tinham-lhes prometido. E é assim que Fini descreve o que encontrou. Depressa as casas semi-destruídas em que viviam nas grandes cidades austríacas dariam lugar a outras que lhes pareciam enormes, em aldeias ou pequenas vilas espalhadas pelo país. “Tudo era grande e bonito, de mais para mim, assustava-me um bocadinho”, contou esta austríaca(…)
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