Começo por referir que, no texto anterior me esqueci de escrever que, misturado ao quartzo esmagado e depois de frito, se juntava um mineral abundante no granito do Nordeste Transmontano, a Turmalina, que aqui é preta, mas que pode ser de outras cores sendo até considerada “pedra semi-preciosa”.
Mas, continuando…
A febre emocional que se gerou na zona, por causa das riquezas que se obtinham com um pedaço de Volfrâmio, levou a que pessoas se deslocassem de Zona, indo para terras até aí quase desconhecidas, mas que dizia-se, havia minério!
Parecia o Far West Americano.
As mulheres tiveram também o seu papel importante nesta saga.
Enquanto os homens trabalhavam nas minas ou até por conta própria, procurando por tudo quanto era serra onde pudesse escavar e procurar o minério, as mulheres descobriram uma outra actividade.
Como disse já, existe um outro Tungsténio, a Scheelite, que era então conhecida por Volfrâmio Branco.
Havia bons depósitos desse mineral.
Havia e ainda há, como se comprovou há uns anos com a descoberta de uma grande jazida (colaborei nesse projecto), que chegou a ser considerado dos mais importantes da Europa, mas que, depois de investigado até aos 80 metros de profundidade, através de sondagens, foi abandonado. O preço do minério não compensava a exploração. Está lá, não azeda.
Na margem esquerda do Rio Douro, no topo do monte foi encontrado um filão de Scheelite. Os homens escavavam a céu aberto de modo a pôr a descoberto a rocha, para posterior desmonte.
Cá em baixo, na aldeia corria um regato, para onde as mulheres costumavam ir lavar roupa.
Num ápice tudo mudou. Elas, logo pela manhã, carregavam o cesto de verga, onde levavam os filhos ainda pequenos e um alguidar de alunínio!
Tinham aprendido a lavar a terra que iam extraindo do regato ou da margem que ficava por baixo dos trabalhos mineiros. O declive do monte e a chuva iam transportando pedacinhos de minério.
Já com “arte”, mergulhavam o alguidar cheio de terra e iam esfregando. Rodavam o alguidar com cuidado e a água ia levando a argila já solta. Passado um tempo, depois de muito repetirem esta operação, lá estava, no fundo o tal pó branco. Metiam-no em saquinhas e levavam para casa. À noite, poderiam dizer aos maridos:
“ Olha, consegui arranjar uns saquinhos de pó. Quando tivermos mais uns poucos temos que falar com o “engaijador” para o vender”
Entretanto, ia escondendo os saquinhos num buraco de parede, porque o comercio de minério estava vedado a particulares.
Mas esta actividade de garimpeira, não era pacífica. Às vezes, quando chegavam ao local de lavagem e que já consideravam de sua propriedade, esta já estava ocupado por outra mulher.
Pousavam o que levavam e:
“- Desanda-me já daí, que esse lugar é meu. Pira-te sua ladra desavergonhada!”.
A outra, ou lhe fazia frente ou tinha que ir procurar outro lugar! E, debaixo do avental, metido numa sacola presa à cinta, estava um pistolão. O primeiro tiro, sempre poderia acertar, porque eram armas de carregar pela boca! Eram autênticas mulheres de barba rija ou pêlo na benta, como eram apelidadas.
Entretanto, ia-se desenrolando uma tragédia silenciosa. As mães, quando iam para os regatos lavar o minério e se tinham filhos pequenos, ou os levavam dentro de cestos de verga ou os deixavam em casa a dormir.
Debatiam-se com um problema: as crianças tinham que dormir o máximo de tempo possível, para elas poderem labutar o mais possível!
Embebedavam as crianças!
Se tinham leite materno para as alimentar, depois davam-lhes umas colheres de chá, de vinho. Se não tinham e precisavam de leite de cabra, faziam o mesmo tipo de mistura. Até aguardente chegavam a misturar no alimento que lhes davam!
Triste miséria humana. Ignorância desumana
Esta situação continuou por muitos anos. Quem foi ou ainda é Professor, se lembrará de crianças que chegavam à escola pela manhã, a cheirar a vinho. O álcool já fazia parte dos seus hábitos alimentares desde bebé!
Esta história, foi-me contada por uma simpática velhinha, já há muitos anos, no regato onde ela própria correu a tiro uma outra mulher, de uma aldeia vizinha, que para ali tinha vindo lavar o minério branco!
“ – Ai senhor, - dizia-me entre lágrimas -. Aquilo é que era tempo de fome e miséria! Mas era nova, cheia de força. Agora, estou pr’aqui uma velha, à espera que o Senhor Deus me leve…”
Mas, continuando…
A febre emocional que se gerou na zona, por causa das riquezas que se obtinham com um pedaço de Volfrâmio, levou a que pessoas se deslocassem de Zona, indo para terras até aí quase desconhecidas, mas que dizia-se, havia minério!
Parecia o Far West Americano.
As mulheres tiveram também o seu papel importante nesta saga.
Enquanto os homens trabalhavam nas minas ou até por conta própria, procurando por tudo quanto era serra onde pudesse escavar e procurar o minério, as mulheres descobriram uma outra actividade.
Como disse já, existe um outro Tungsténio, a Scheelite, que era então conhecida por Volfrâmio Branco.
Havia bons depósitos desse mineral.
Havia e ainda há, como se comprovou há uns anos com a descoberta de uma grande jazida (colaborei nesse projecto), que chegou a ser considerado dos mais importantes da Europa, mas que, depois de investigado até aos 80 metros de profundidade, através de sondagens, foi abandonado. O preço do minério não compensava a exploração. Está lá, não azeda.
Na margem esquerda do Rio Douro, no topo do monte foi encontrado um filão de Scheelite. Os homens escavavam a céu aberto de modo a pôr a descoberto a rocha, para posterior desmonte.
Cá em baixo, na aldeia corria um regato, para onde as mulheres costumavam ir lavar roupa.
Num ápice tudo mudou. Elas, logo pela manhã, carregavam o cesto de verga, onde levavam os filhos ainda pequenos e um alguidar de alunínio!
Tinham aprendido a lavar a terra que iam extraindo do regato ou da margem que ficava por baixo dos trabalhos mineiros. O declive do monte e a chuva iam transportando pedacinhos de minério.
Já com “arte”, mergulhavam o alguidar cheio de terra e iam esfregando. Rodavam o alguidar com cuidado e a água ia levando a argila já solta. Passado um tempo, depois de muito repetirem esta operação, lá estava, no fundo o tal pó branco. Metiam-no em saquinhas e levavam para casa. À noite, poderiam dizer aos maridos:
“ Olha, consegui arranjar uns saquinhos de pó. Quando tivermos mais uns poucos temos que falar com o “engaijador” para o vender”
Entretanto, ia escondendo os saquinhos num buraco de parede, porque o comercio de minério estava vedado a particulares.
Mas esta actividade de garimpeira, não era pacífica. Às vezes, quando chegavam ao local de lavagem e que já consideravam de sua propriedade, esta já estava ocupado por outra mulher.
Pousavam o que levavam e:
“- Desanda-me já daí, que esse lugar é meu. Pira-te sua ladra desavergonhada!”.
A outra, ou lhe fazia frente ou tinha que ir procurar outro lugar! E, debaixo do avental, metido numa sacola presa à cinta, estava um pistolão. O primeiro tiro, sempre poderia acertar, porque eram armas de carregar pela boca! Eram autênticas mulheres de barba rija ou pêlo na benta, como eram apelidadas.
Entretanto, ia-se desenrolando uma tragédia silenciosa. As mães, quando iam para os regatos lavar o minério e se tinham filhos pequenos, ou os levavam dentro de cestos de verga ou os deixavam em casa a dormir.
Debatiam-se com um problema: as crianças tinham que dormir o máximo de tempo possível, para elas poderem labutar o mais possível!
Embebedavam as crianças!
Se tinham leite materno para as alimentar, depois davam-lhes umas colheres de chá, de vinho. Se não tinham e precisavam de leite de cabra, faziam o mesmo tipo de mistura. Até aguardente chegavam a misturar no alimento que lhes davam!
Triste miséria humana. Ignorância desumana
Esta situação continuou por muitos anos. Quem foi ou ainda é Professor, se lembrará de crianças que chegavam à escola pela manhã, a cheirar a vinho. O álcool já fazia parte dos seus hábitos alimentares desde bebé!
Esta história, foi-me contada por uma simpática velhinha, já há muitos anos, no regato onde ela própria correu a tiro uma outra mulher, de uma aldeia vizinha, que para ali tinha vindo lavar o minério branco!
“ – Ai senhor, - dizia-me entre lágrimas -. Aquilo é que era tempo de fome e miséria! Mas era nova, cheia de força. Agora, estou pr’aqui uma velha, à espera que o Senhor Deus me leve…”
Texto retirado do blog O serrano
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